terça-feira, 17 de junho de 2014

Amaraladas na Copa 14 - VI

Outro dia me disseram que o jogo Irã e Nigéria foi horroroso. Eu, que sempre desconfio, não acreditei nada. Eu sou daqueles que assiste a Rede Vida para assistir e achar graça num Capivariano e Assisense, que decoro tabelas de terceira divisão pelo simples prazer de narrar os lances imaginários de um time qualquer. Eu que imagino histórias do atacante do Calouros do Ar errando uma penalidade máxima, no último minuto de uma série C do cearense não posso acreditar num jogo de pavor entre dois times fantásticos. Tenho mais Bra-Pel, Gurani e Ponte, Ríver e Flamengo de Teresina, Celtic e Rangers no sangue que hemoglobina.

É que tem gente que só gosta de missa em igreja enfeitada. É bonito, confesso. Uma igreja toda com flores, tesouros, anjos barrocos, velas e castiçais de ouro. E o padre lá, solene, falando da carta aos coríntios e das dicas de Paulo para o bom lar, numa interpretação para lá de conveniente do texto do livrão. Acho chato o blablablá do padre, mas gosto do ritual todo e admito que conforta a quem quer ser confortado.

Mas sempre me parece que se um só deus existir ele certamente não estará sempre nestas missas. Por mais onipresente que seja, ele anda descalço. E tem lá que acompanhar o passo nas romarias, os cantos das salas de ex-votos, ouvir as novenas. E acompanhar os batuques que evocam outras entidades que ele sabe existirem e as respeita, porque ele seria, ao cabo de tudo, o criador de toda a confusão. E ele ouve orações em presídios de pastores de fato a acalmar e dar alento a quem realmente precisa. Precisa do verbo, mas está nas casas de tolerância, nas danças de terreiro, nas polcas de salão, no canto do convento, no riso de um travesti que faz ponto atrás da igreja.

Deusas e deuses, prefiro crer. Porque tenho fé nas gentes. Descobri isso recentemente, discutindo o mundo com meus guris. Que no fundo a eu era ateu para poder negar tudo aquilo que em nome da fé se fez de ruim na história recente deste planetão que é só uma gota perdida por aí. Mas que é improvável estarmos sozinhos e que sol, lua, mar, terra, inferno, paraíso, cadafalsos, porões, cinema, pão doce cheio de creme, atabaques, imagens, templos, carpideiras, divãs e balinhas de goma tem lá seus encantos, suas histórias, suas raizes e fundamentos.

Irã e Nigéria foi, sem dúvida alguma, o melhor jogo desta copa. Quem quiser negar, negue. A solidão deve ser algo muito cruel quando não se é por opção... 

Vou lá buscar os meninos, estão jogando bola no prédio com os vizinhos, para assistirmos ao jogo na casa da Fátima. Inté.


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