segunda-feira, 16 de junho de 2014

Amaraladas na Copa 14 - Quinto



Fui ver um dos jogos no Anhangabaú. Lá montaram os "patrocinadores" e a organizadora do evento um local com telão para assistir aos jogos. Paulistas somos inacreditavelmente jecas para muitas cousas. Como não temos praia, costumamos nos lambuzar nas farofas, com gosto. Até as narinas mais empinadas da gente bandeirante piratininga chegam na praia e pronto: mafuá, farofa milanesa na areia e queimadura. Nem adianta dizer que não. Quem nega, no mínimo é cafona. Bom... nós paulistas somos cafonas. Mas voltando à marola, como não somos uma cidade linda por natureza, nossos encantos são outros. E para desvelo é necessário um algo mais, um outro olhar que guais de turismo e de beleza não dão. E por estas e outras estamos inacreditavelmente desacostumados aos gringos turistas.

Chega a ser patético. Porque uma cidade pseudo cosmopolita, repleta de gente do mundo todo que mora aqui, quando vê um que não mora, só tá de visita, ficamos todos animados, como que vendo entidades sobrenaturais. Jecas. No estilo do Monteirão, um clássico do tatu.

E na tal tenda para os jogos o que mais tem é gringo. Contei sotaques. Contei dezenas, repito, dezenas, de camisas de países diferentes. Fiquei bestificado com tudo. Parecia criança em loja de brinquedo. Quando uns caras, um deles com a camisa da Argélia e outro da França, começaram a azucrinar um grandalhão coreano, com uma linda jaqueta do time da Coréia do Sul, gritando "Argélia", comecei a rir feito besta: Coréia e Argélia é um dos clássicos do grupo H.. Pinto no lixo, eu.

E tinha um francês ao meu lado. Puxei papo. O cara veio da França para assistir ao jogo do Uruguay com a Inglaterra, em Itaquera. Um único jogo. E nem era do país dele. Estava todo feliz tirando foto de tudo e comemorou o primeiro gol francês com uma felicidade de primeira mordida em quindim. Bonito que só. Falamos da copa e ele, em inglês tão ruim quanto o meu, me disse algo como "vim para me divertir".

São Paulo tem muito africano. Quem anda pelo centro, sabe, reconhece. Mas é difícil conversar com eles num dia normal. Porque no corre corre dos dias somos todos meio bestas, mais relógios que relíquias. Mas lá na tenda, ar aberto, era fácil. Um "oi", um sorriso, uma comemoração de gol. E eles sorriem bonito, né? Quem nunca ficou feliz com um sorriso deles, desses lindos, sabe pouco dos encantos do mundo, pouquíssimo. Só refrigerante, provavelmente.

E os latinos americanos!!! Senhoures e senhouras, a quantidade de camisas vermelhas do Chile é de impressionar qualquer marujo. E amarelas de colombianos, sombreiros mexicanos e o azul dos hermanos. E os felizes costa riquenhos, garbos com sua bandeira.

Um clima amistoso que estamos pouco acostumados, gente sentada no chão sem toalhinha para as bundas, felizes, conversando. Apesar das caras sempre carrancudas dos policiais - e me pergunto a razão do porquê a policia do estado estar num evento que a organizadora diz ser dela - com exclusividade pérfida de um amante ciumento e inseguro - e, portanto, um evento privado.

Apesar dumas catracas e de umas revistas em mochilas e roupas, o local estava aberto. E os bêbados do centro também estavam lá. E não só os bêbados: as putas do entorno da praça do Correio, os mendigos das escadarias da Líbero, gente diferenciada. Há algo ali no Anhangabaú, antes de sermos essa gente jeca e malcriada, quando era rio e vale e gente pelada, que tatuou a cidade. Nem a tal organizadora foi capaz de tirar isso de lá. É provável que até o fim da copa tentem expulsar essa gente feia dali. Mas muito provavelmente não conseguirão... Desta vez há um ancestral nosso que continua a achar José de Anchieta um grandessíssimo dum explorador mequetrefe, que de santo não tinha nem as batas... mas que acha graça num festerê. 

Vão acabar comendo a gente, se tivermos sorte.


Um comentário:

  1. Quem não frequentar esse espaço até o fim da copa se arrependerá profundamente...

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