quarta-feira, 18 de junho de 2014

Amaraladas na Copa 14 - Sete


Imagino jogadas, fantásticas e imodestas, todo tempo. Meu cérebro tem uma sala para jogos imaginários, certamente. Todos sabem que isso é um perigo, quase um catálogo de psiquiatria. Alguns até ensaiam algo como "não se pode viver o tempo todo em fantasias, cuidado." Talvez.


Mas ontem, na peleja de Fortaleza, a única jogada que me arrancou sorrisos eram as narrações da rádio Popular AM, a rádio que funciona ininterruptamente nas minhas digressões mentais. A equipe esportiva da Popular é muito boa. e é liderada por mim mesmo. Leonino até nas manias acha que o mundo é quem deve trocar a lâmpada.


Pois bem, a bola sairia dos pés de Rogério Ceni, num lançamento maravilhoso, que Rodrigo Caio resvalaria de cabeça deixando Magno Alves na cara do gol. O atacante do Ceará, um dos maiores artilheiros em atividade no Brasil, experiente, rodado, com uma simplicidade dos imortais, manda a pelota para o fundo da meta de Ochoa. "Goooooooooolaço! Um lançamento miliméeeeeeeetrico de Rogério, a inteligência de Rodrigo Caio e a bola chegou para o Magno Alves, que bateu firme, inapeláaaavel, indefensável!!!!". E eu chamaria os repórteres de campo que enfatizariam a comemoração de Magno Alves junto a uma bandeira do vovô que tremulava nas arquibancadas do Castelão. 


Sabemos todos que esse lance nunca mais aconteceu. Que depois de imaginado, narrado e comemorado, tal qual broa com café, foi degustado e pronto. A vaca fria estava lá, no zero a zero eterno, mais um desses jogos que podem rolar até o fim do mundo sem romper placares, naquelas virgindades eternas de novela das seis. Quem espera príncipes, tende a enamorar sapos.


Na toada que vamos temos um meio campo terrivelmente triste. Exceto o bom Luiz Gustavo, temos incógnitas. A maior delas é aquele que deveria ser motor do trem todo, Paulinho. Talvez tenhamos que mudar um cadinho as cousas pela família. Mas quem lembra de Kléberson no mundial da Ásia sabe que o técnico da seleção, se não tem muitas cartas na manga, tem uma sorte de bingo de quermesse. 


Outra cousa que precisa de um "pára que tá chato" é o birinaite do hino. A patriotada lá na Copa das Confederações teve um saborzinho de confeito, bom mesmo. Agora me parece um repeteco um tanto desnecessário, quando não uma muleta para justificar defeitos como insegurança e despreparo. Enquanto o estádio canta o hino os jogadores poderiam mesmo pegar fogo e não ficar naquele chororô com cara de comercial de margarina, meio que enredo de pastiche com narração em off do Galvão Bueno. 


Mas que a copa está muito boa, está. O povo da rádio Popular tá numa felicidade que dá gosto. E o programa especial sobre as remoções causadas por causa da copa foi muito bom. Tem festa mas tem rabo. E feio. Foi tão bom quanto o programa que falava do engajamento dos principais jogadores da seleção brasileira nas discussões sobre o calendário e organização do futebol brasileiro, com uma entrevista com o Alex do Coritiba e camisa dez do time nacional foi digna de boa nota, muito boa. Sem contar a recusa dos jogadores em cumprimentar Marin, aquela excrescência que avilta nossa memória, nossa história, nosso futebol.


Mas... enfim... a entrevista do Magno Alves foi fantástica, com direito até a um Fágner cantarolado numa sala de imprensa enlouquecida. Uma seleção assim, desse jeito, ninguém poderia imaginar.


Só na Rádio Popular.

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