domingo, 29 de junho de 2014

Amaraladas na Copa 14 - Dezessete


Devo ser uns trinta anos mais velho que o Felipe. Sou de 1972 e ele deve ser de 75, acho, creio, imagino. Camarada. Gosta de futebol como poucos e gosta de ler, o que torna nossa amizade fácil, porque eu escrevo como um desesperado querendo fugir um cadinho das ilusões, construindo outras. 

De humor fácil, torce para o Fluminense e tem aguentado bem as tirações de sarro sensacionais que estamos a lhe oferecer, aporrinhando por causa da meleca do campeonato do ano passado. Na nossa diferença de idade, o meu Fluminense de todos os tempos é o de Assis e Washinton. O dele, o de Renato Gaúcho e os times recentes, que ganharam alguma cousa, admito. Mas nossa maior diferença futebolística é a seleção.

Felipe é Romário. Para ele o escrete de 1994 reúne todas as condições para jogar no firmamento. Além do mais o técnico era Parreira, aquele do Flu de Assis. Já este velho senhor parou no tempo. A escalação é de um time que não ganhou uma copa. O treinador também jogou e treinou o Flu, num tempo imemorial de décadas e décadas anteriores à pisada na Lua. Esta diferença é, de certa forma, a peneira com que conseguimos analisar e olhar o futebol. Há aqui um encantamento diverso, que pode parecer só uma questão poética, mas sabemos que não. 

A nostalgia, e convenhamos que 1994 já se pode considerar nostalgia, é um sentimento que alimenta, apaixona, nos faz fazer músicas, canções e saudades. Saudade é a palavra de nossa língua que tem um sabor diferente, aquele cheiro de café sendo coado enquanto esperamos a fatia de pão. Mas ela também nos paralisa, em muitos aspectos. Ficamos muitas vezes ali naquela tampa de refrigerante Gini, chutando contra uma parede que não existe mais.

Por isso, mesmo tendo um outro time, um outro time, o mesmo Parreira, é verdade, os olhares e percepções - e a forma de torcer - tem uma cor diferente. As vezes antagônica, assustadoramente antagônica. As vezes complementar. Sempre uma cerveja, uma porção de colesterol e umas outras cervejas e estaremos ali, no eterno mesa redonda futebol debate de nossos eternos domingos a noite, mesmo sendo segunda feira.
O bom desse feiçobuco é que a gente pode dinamitar essas bobagens, explodir como biribinhas. Que se a falta da cerveja é um problema, aqui se dilui um cadinho. 

Mas copa é copa. E o Felipe é desses tarados compulsivos. Comprou zilhares de ingressos, torrou ordenados em passagens, quase não drome para entrar no sítio da Fifa e põe na pilha todo mundo: "Porra, é copa!". Ele quer, certamente que quer, que Alemanha, Holanda e Argentina (exceto a final, por razões de uma evidência solar), sigam no torneio. São as potências do futebol. E a copa é a hora do tira teima. E nosso time pode ganhar. Com Romário ou Neimar, temos chances sempre. 

Mas o que eu torço mesmo, pelo Felipe, sincera e honestamente, é ter um jogo da Argélia com ele lá na arquibancada. Ganhando ou perdendo, naquele canto todo de parece o comemoração de fim do mundo. Que o México todo cante e que voem bigodes, zapatas. Com o Sócrates batendo no cantinho de Zoff. E a Suíça, assim como naquele mundial para imberbes menores de dezessete anos, lá na Nigéria, já no nostálgico 2009. consiga o feito heróico de derrotar o time com Neimar, que no caso desta copa, o time de Messi.

Pode parecer pouco. E pode até ser que não. Mas é assim mesmo.

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