Preâmbulo
A
situação do grupo é dramática, como as leitoras deste prestigioso blog
futurologista estão cansadas de saber.
O
Brasil está de luto, tenso, com a morte de Oscar e a fuga do assassino Paulo
Henrique.
Para
quem não leu, ou não se lembra, eis os fatos e os resultados até o momento:
Brasil
2 x 2 Croácia (leia aqui)
México
2 x 1 Camarões (aqui)
Brasil
5 x 5 México (e
aqui)
Croácia
1 x 1 Camarões (Mãe DiNáder)
Para
facilitar as contas, a classificação:
|
PT
|
SG
|
GP
|
México
|
4
|
4
|
7
|
Brasil
|
2
|
0
|
7
|
Croácia
|
2
|
0
|
3
|
Camarões
|
1
|
0
|
2
|
O
Jogo
Tanto
já se falou, se escreveu, sobre as belezas de um estádio lotado e, de fato, até
aqui, as arenas bonitinhas até que andaram apinhadas de gente.
Mas
o jogo era de Copa e o estádio estava às moscas.
Na
verdade, me faziam companhia, além das moscas, uns duzentos mexicanos, atrás de
um gol, e cinqüenta croatas, atrás do outro. O único brasileiro desavisado era
eu.
Repito:
único.
Desavisado
porque, ao comprar o ingresso para este jogo, em Recife, não percebi que,
enquanto aqui jogariam Croácia e México, no mesmo bat-horário, em Brasília,
Brasil e Camarões se enfrentariam para decidir a classificação.
Fato
é que muita gente, com ingressos na mão, lotava bares e praças de Recife para assistir
ao jogo da seleção brasileira.
Eu,
na arena vazia, estava só. E como é belo o estádio vazio.
O
som do apito ecoou, longo, pelas arquibancadas. Vários segundos se passaram até
que se recobrasse o silêncio.
O
jogo era mero coadjuvante da arena deserta e seus sussurros. Os gritos dos boleiros,
as broncas do treinador, os xingamentos em croata, as parábolas descritas pela
bola e o encantador barulho de seu choque com a chuteira mexicana tiravam deste
expectador solitário a atenção sobre o jogo em si.
Sem
ninguém do lado para fiscalizar minha concentração, assisti à partida distraída,
descompromissadamente. A grande vantagem do estádio vazio é a cerveja gelada,
sem fila.
A
arena é moderna, padrão FIFA. O jogo, de Copa. Mas, na verdade, me sentia na
Rua Javari (quanta falta me faz um cannoli). Pensei: houvesse alambrado, lá
estaria a xingar o bandeirinha coreano.
Começou
o segundo tempo, a quarta cerveja descia gelada, mas o jogo seguia morno.
De
perto, o uniforme da Croácia era hipnótico. Uma toalha de pic-nic. Aumentava a
vontade de tomar cerveja.
Estava
no bar, pegando a sexta, quando o galego, já amigo, lápis numa orelha, radinho
na outra, resmunga que o Brasil não estava jogando nada e o placar teimava em
não sair do zero.
Pois
no que a frase do galego ecoou pelos corredores da arena fria, ouvimos uns
grunhidos vindos do campo.
Corri.
Gol
da Croácia. Persistindo o resultado, o Brasil estaria fora. México e Croácia,
classificados.
A
desclassificação prematura seria um golpe grande demais para a torcida
brasileira.
Bêbado,
me comovi.
Cambaleante,
voltei correndo ao alambrado invisível e, já sem as papas que a sobriedade me
impusesse à língua, desferi, solitário, os mais variados impropérios contra o
bandeira coreano, que acabara de anular um ataque mexicano. Ele olhava
assustado, como se entendesse tudo o que eu dizia.
Então,
o xingava mais ainda.
Xingava-o
porque, ainda que só, tinha companhia, pois, naquele momento, o Brasil inteiro queria
estar naquele alambrado invisível, para dizer para aquele bandeira que ele era
um grandissíssimo filho de uma puta. Que sua mãe,...
Enfim,
xingava-o porque não estava mais só, porque a ausência da torcida, me obrigava
a lotar, sozinho, um estádio.
Pulei,
gritei, xinguei, torci feito um louco, sozinho na multidão de cadeiras
amarelas, como se o estádio estivesse repleto.
Até
que o apito final ecoou doído e reverberou por todo o estádio. O jogo acabou.
Festa
dos presentes.
Epílogo
A
mim, restava o xixi derradeiro.
E,
na solidão acústica do banheiro perfeito, sem temer o ridículo, pensando na
arena vazia, nos bares cheios, cantarolei Pablo Milanéz: “Un homenaje / Para tu ausência / Lo llenas todo / Con tu presencia”.
Antes
de deixar o estádio, vou tomar a saideira e ver com o galego quanto acabou o
jogo do Brasil. A esperança é a última que morre. E alguém já disse: enquanto
houver gelo, há esperança!
Luís
Pini Nader
23/06/2014.
Croácia 1 x 0 México
Arena Pernambuco.
Público pagante: 151 pessoas
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