sexta-feira, 27 de junho de 2014

Amaraladas na Copa 14 - Quatorze


Eu sou advogado. Escolhi ser. Não gosto mais, é verdade. Mas me encanta a defesa do impossível, a boa tese, a justificativa plausível, o tentar explicar. Talvez seja um desvio de caráter: não sei punir.

Todo esse trololó acerca da punicção de Luisito me deixa acabrunhado e mais uma vez mergulho fundo nas minhas contradições, cada vez mais infinitas e "irresolvíveis".Por um lado a imagem está lá, para a via láctea toda acompanhar: Suarez desfere uma mordida no defensor italiano, daquelas fundas. A imagem fria e repetida, zilhares de vezes, espalha o pânico de todo pai e mãe com criança no jardim da infância - o pesadelo das mordidas. Fase oral, definitivamente.

Luisito é reincidente. Parece que pratica a mordida como se praticam as cusparadas na zona do agrião, os dedões nos fundilhos, as patoladas no saco alheio nas disputas dentro e fora da pequena área. A sujeira é imensa nessas horas de desespero. Um convento ficaria todo em claustro e penitência soubessem do que se faz ali no campo de jogo em nome do gol. O problema é que a mordida sempre será percebida. Não se escondem os dentes. E as marcas. De fato, a imagem fria estabelece a imposição da sanção. Não se pode fingir que aquilo ali não aconteceu, muito embora o juizão na hora do agá não tivesse visto nada ou reclamado de nada. Mas a imagem fria é fria, calculada e calculista. Qual palavrão saiu da boca do zagueiro, minutos antes? O que o cotovelo, esse ser de vontade própria, disse ao atacante naqueles átimos todos?

A utilização da imagem fria, depois do jogo, só para punir jogadores me parece um cadinho ofensiva no balacobaco todo. Porque se escolhem quais agressões merecem punições depois do jogo. Porque os escandalosos erros de arbitragem que resultam em gols ou em não-gols são coisas do jogo e não podem ser revistas. Porque o videoteipe é um remédio maravilhoso mas usado em demasia é cobardia inigualável. Um juiz mequetrefe que vê o lance oito vezes no teipe, com a ajuda do computador, do congela imagem, do recurso infinito fica a cagar regrinhas sobre o que está certo ou errado.... Ora, se vale para punir me parece que deveria valer, também, para reconstruir equívocos monumentais como aquele impedimentozinho maroto, aquele penalzinho cavado, aquela laranja toda limão cravo e tangerina. 

Sabemos que reconstruir lances seria matar o futebol. Porque essas pinimbas fazem parte do carnaval. Seria de bom alvitre estudarmos formas de correções destes eventos durante a partida. Mas, depois, finda a jornada, esfera inerte: acabou. 

Por outro lado, a mordida está lá. Fingir que ela não ocorreu e, no caso, que não é um caso de consultório, pois repetida, é passar a mão nas madeixas do craque e deixar pra lá, pobrecito ele não sabe o que faz. Sabe. E merece algum tipo de punição. Talvez devesse ser obrigado a se consultar, a ir a um terapeuta, uma mesa branca ou uma missa. Talvez um gancho de alguns jogos para se tratar. Mas, definitivamente, somente para punir é que vamos usar videoteipe é algo que não me desce. Nem com gelo e vermute. O exagero dos nove jogos, o banimento da copa e dos estádios, a retirada de credencial, tudo isso, de tão nojento, me abstenho de comentar. A FIFA é aquele figura ausente, que aparece para dar pito para justificar alguma síndrome de autoridade.

Agora.... atiçaram a onça. O Uruguay, na bola, no campo, no onze a onze, no banco - apesar do charme incomparável de Tabares, não assustaria muito, porque limitado. Godin e Cavani são pérolas, raras, mas talvez não fizessem verão. Mas atiçados, acuados, injustiçados - ok, ok, ok, sabemos que alguma punição viria, mas o excesso mata bem mais a planta - dão aquela adrenalina, aquele dopping psicológico, aquela serotonina mágica que faz o mortal sair pulando de viaduto, bancando o Buzz Lightyear...



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