Resolvi que hoje era dia de vestir cinquenta. Sim, a camisa branca e azul da seleção de 50. A do Maracanazo. A camisa de Bauer. Bauer, para quem não sabe, fez parte da linha média mais soberba da história de todos os torneios de futebol de todos os tempos, sem exageros. A linha média era um poema assim: Rui, Bauer e Noronha. E estava naquele time de cinquenta, ao lado de Zizinho, um outro desses nossos deuses.
O Grande me perguntou, meio estupefacto, porque vestir uma camisa do Brasil logo hoje. "Porque hoje é necessário."
Quando o Grande chorou ontem, chorou chorado choroso lágrimão, depois do quarto tento, a única cousa que queria era encontrar palavras que servissem de abraço. Para além do abraço, do cafuné, de dar as mãos. Porque sei que frustrações assim serão inevitáveis. E apesar de reconhecer a dimensão mágica do futebol, também reconheço que decepções existem, perambulam, assombram. Dar tratos a bola, como diriam os antigos. Cuidar da gente e de nossos fantasmas.
A reação do Pequeno ao choro do irmão foi imediata. Se assustou, amuou, ficou no meu abraço. Ficamos assim. Nós três. E a Rerrê, que também precisou de acalanto. Quatro a zero era, de fato, demais.
Esbravejei com o time. E com Felipão. Me perguntei quantas e quantas vezes aquele time tinha treinado junto, com o agravante de ter trocado o zagueiro de lado, justo o zagueiro que era esteio do time. Era semifinal, poxa... Mas logo logo desisti de explicações. Pouco ia mudar a moviola e todos iriam buscar suas explicações. Mas a derrota já era inexorável, incontestável, acachapante. Fiquei então pensando neles. E agora?
A resposta veio rápida. Os dois foram bater bola no quintal junto ao primo mais novinho. Chutes nas paredes. Toques. Suores. Provavelmente ali tratavam do jogo, de encontrar um empate. E embora o assunto tenha sido o jogo, ontem e hoje, as mirabolantes discussões do porquê, as milhares de alternativas para outros desfechos, a bola chutada contra a parede foi a melhor das melhores respostas. Devia ter ido lá no segundo tempo, com eles e a Rê.
E hoje eu era o Bauer. O "Monstro do Maracanã", apelido dado por suas partidas memoráveis no mundial de cinquenta. Há tragédias, há vexames, há cousas horríveis. Mas tem a bola no quintal. E quem tem Bauer no time, mais o Zizinho, não precisa e não deve ficar a sofrer infinitos: lamber as crias, lamber feridas, tratar a bola, que rola, até o apito final.
Nota de rodapé: E recomendo vivamente o Sesc Pompéia, que tem uma exposição sobre músicas de futebol até o próximo domingo, data da final desta nossa bela copa. Tem até narrações de gols brasileiros de outras copas.
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