sábado, 12 de julho de 2014

Amaraladas na Copa 14 - Trinta e Um


Leônidas da Silva é o meu Pelé. Sim, não tenho nenhuma dúvida em afirmar que o Diamante foi o melhor, mais assombroso, mais gigante, mais espetacular, mais Pelé jogador de futebol de todos os tempos. Alguns vão dizer que ele nunca ganhou copa e aquele mesa toda, no que replico que antes do teipe Leônidas fez gol descalço, em Copa. Em Copa! A de 38, um dos melhores escretes nacionais de todos os tempos, que além de Leônidas tinha Domingos da Guia, outra legenda.

Leônidas jogou no São Paulo. Sua estreia foi durante anos e anos o maior público de futebol de uma partida de futebol no planeta onde se joga futebol. É muito emblemático este episódio. Chamaram o craque de bonde, porque chegava ao Mais Querido já velho e cousas do gênero dos beócios. Leônidas arrebentou com o jogo. E depois cansou de ganhar canecos. Foi cronista esportivo, da Pan, na década de sessenta. Tinha fama de ranzinza, mas entupiu a estante com prêmios Roquete Pinto, o Oscar, Emmy, Juca Pato, do rádio nacional em décadas pretéritas.

"Mas você nunca viu o Leônidas jogar!". Este argumento é de um estupor de ausência espiritual, material, sobrenatural. Os fatos divinos, senhoures, senhouras, prescindem de provas. Não é dogmatismo, religião, misticismo, política, groselha ou macarrão com queijo, é a bicicleta, o gol impossível descalço, é a copa de 38, o título magistral de 43, o título épico de 45, o magistral bicampeonato de 46, o caneco espetacular de 48 e o fantástico bicampeonato de 49. E voltando a 38, foi eleito pela crônica mundial, numa copa na Zoropa e tudo, o melhor daquela Copa. O melhor. 

Um dos lugares mais legais da cidade de São Paulo é o Museu do Futebol, que fica ali no Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu. Lá temos um memorial de histórias do nosso futebol, das copas, dos jogadores, dos clubes. Leônidas está lá. Na galeria dos imortais. E logo na entrada há umas cabinas com locuções de rádio de diversos gols. Lá é meu canto preferido do museu, porque tem uma locução do Geraldo José de Almeida de um gol de Leônidas, de "bicicleta", o "bonde num gol gol de bicicleta". É de uma lindeza aquilo... 

Hoje fui ao Museu. Levei os meninos. Passeamos. O Pequeno me perguntou de Zizinho, o craque que Pelé idolatrava quando menino, o Pelé do Pelé. E todo feliz mostrei pra ele que Mestre Ziza jogou na copa de 50, que perdemos, e fez parte do time maravilhoso do São Paulo de 1957. Aquele do gol do Maurinho. Mostrei para o grande o genial Didi da Guiomar, contei que foi Didi o Pelé da Copa de 58, embora o menino rei tenha feito os gols mais espetaculares daquele certame. Os dois se encantaram por Mané, nosso mais genial Pelé. Com um pai babão que mostrou que o time deles teve seu Mané, canhoto: Canhoteiro. Tem gol de Rogério no museu. Não foi a primeira vez que fomos. Os meninos sabiam que na sala escura tinha o silêncio do Maracanã, logo depois do gol de Friaça. Sabiam que o pai mostraria Leônidas. E que falaria do lançamento de Gérson como parábola de uma viagem à Lua, Gérson, o Pelé da copa de setenta.

O que eles não sabiam, sequer desconfiavam, foi que desta vez foi muito triste, muito triste, sair daquele museu... Por mim ficava lá, virava Canal 100.
A dor mais dolorida na derrota de sete não foram os gols, os erros, o vexame no campo, que os números dizem ser a maior piaba na história de todas as copas. A maior dor, a que machuca mais, e que infelizmente tem pouco de novidade e pouco a ver com o jogo dos sete foram as declarações de Parreira, de Luis Felipe, dos dirigentes, as explicações da pane, do acidente, a maldita conversa "vazada" entre o treinador e o zagueiro capitão que não jogou contando uma verdade paralela para amainar o sono bovino, a entrevista de Neimar... 

Porque para essa gente não há Leônidas nem Domingos, não há Zizinho nem Didi, não há Mané tampouco Canhoteiro. O lançamento do Gérson é só uma imagem velha de videoteipe... Não há nem Pelé.

Quando a gente diz e luta e afirma que é preciso abrir os arquivos da ditadura militar, para recontar, conhecer e compreender nossa história, que é preciso, sim, julgar torturadores, agentes de estado e financiadores de um sistema macabro que matou e desapareceu com homens e mulheres, estamos querendo compreender quem somos, nossa história, nossa sina, nossos caminhos a percorrer e os a evitar. Negar ou esconder a história, condenar ao esquecimento, nos diminui como estado, como país, como civilização.

Não é a toa que Marin é o presidente da CBF. Herzog também devia gostar de futebol.

Hoje foi triste. E nem tinha sido o jogo com a Holanda...



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