segunda-feira, 14 de julho de 2014

Amaraladas na Copa 14 - Finito


O fato é que no rocambole todo, na receita do pão de ló, o jogo foi bom, muito bom. Tons dramáticos, um time que resolveu ocupar a Baviera com bem postados e um Sabella cuspindo fogo na lama da vergonha dos sete a um, mostrando aos anfitriões que um time pode, sim, ser time e não um catado no milharal. Um outro time que tem a posse da bola como recheio, num avance uma casa o tempo todo, o tempo todo. Como estratégias, jogo, brinquedo, uma beleza. Uma boa final para uma copa, que ao fim de tudo, no campo, foi diferentemente boa. 

Uma arbitragem no limite entre o vacilante e o equívoco notável, mas acertando sempre, conferindo aquele ar de tango para o samba todo. Pontapés graciosos, disputas de bola aos tapas e corações. Talento. Toque e recebe. E Messi, sempre aquele esperança de resolução. E Neuer, um goleiro que impressiona pelo fato de transpirar uma certa intransponibilidade atemporal. E toque e recebe. Tocar e receber, tocar e receber, tocar e receber. Avance uma casa. 

O mundo, redondo como ela, precisava de uma copa menos tíbia. As seleções estavam com muito medo, muito medo, muito medo. Era um deus nos acuda, saravá, põe gente pra marcar. O medo nauseabundeava as seleções, que iam murchas. Os jogos chateavam. Um ou outro inspirava alguma admiração, mas só. Mas aqui em 2014, por uma série de fatores terrenos e astrais, humanos e espirituais, os times resolveram que o medo de amar não faz ninguém feliz. Há a exceção do Brasil, infelizmente, que foi incapaz de entender sinais e nossas próprias canções - ficamos nas marchas militares e nas preces para um deus só, que, ocupado com outras tarefas, obviamente nos negou auxílio. O Brasil foi premiado pela sua teimosia e auto suficiência - arrogância e prepotência em futebolês clássico -, com um olé nas fuças, nas ventas todas. 

E na finalíssima tivemos todo o enredo. Apesar do jogo estudado, a Alemanha parecia querer o gol, tinha apetite e não medo. E a Argentina, gato na espreita, só na espera. E foi na manha. E quase que fizeram o gol... E aí a bola é alçada e nina no peito do menino alemão, preparando-se para o desfecho fatal, pintura. Gol. Campeões. Mais uma vez. Com toda a justiça, esta improvável.

Os mundos estão a comentar as injustiças do prêmio de melhor jogador para Messi e de Oscar, juro pelos sacrossantos todos que Oscar foi escolhido como um dos melhores do mundial, enquanto em alguma dimensão paralela, uma que é redonda é não galhofa, redonda como ela, o menino que nasceu ontem, ao término do jogo, foi batizado simplesmente de "Bastião". Uma corruptela daquele nome repleto de esses e dablius e cês, camisa sete - sim, camisa sete, sete para não esquecermos, não podemos - da seleção alemã.

Valeu, Bastião. Inté a próxima.








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Nota rodapé: Obrigadão, para quem acompanhou as Amaraladas na Copa. Foi muito legal. Foram trinta e três textos. Há tempos não escrevia tanto, nem nas milongas em formas de petição. Quem sabe, voltamos em 2018. Ou nalguma edição extraordinária da equipe de esportes da Rádio Popular....



E sobre a tal Rádio Popular, o texto é este: http://copanofiodobigode.blogspot.com.br/2014/06/amaraladas-na-copa-14-sete.html)

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