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quarta-feira, 20 de junho de 2018
"Aperfeiçoando o imperfeito"
Ouvi uns pedaços do jogo de Portugal, numa estação de rádio lusitana, pelos fones de ouvido no celular. O telefone celular é uma invenção do demônio, todos sabemos. Mas o tinhoso é sempre contradição: criou algo para nos amarrar definitivamente ao trabalho, nos dar a sensação de estarmos ligados, conectados, plugados, por toda a existência da bateria, mas, por outra ruela nos deu os aplicativos de música e as rádios. Uma no cravo, outra na ferradura. Como na copa: Um Portugal e Espanha dum lado,um Coréia do Sul e Suécia, benzadeus que partida árida, doutro.
Os narradores portugueses, eles narram os jogos em dupla, assim como os uruguaios, torcem descaradamente e sem pudores para seus selecionados. É estranho quando comparamos com as nossas narrações mais famosas, que exageram num ufanismo que não podemos chamar de torcida... e não sei muito bem explicar o que é. A vitória parece que vem por causa de algo natural, inato e a derrota vem porque alguém cometeu algum crime. Os portugueses falam das naus perdidas. Nós falamos de como se perderam as naus. É uma linhazinha tênue mas é barbante. Nos jogos da seleção talvez fosse melhor escalar sempre o Silvio Luis e os seus bordões: "pelas barbas do profeta". Ou o Osmar.
O único jogo que vi quase inteiro nesta copa foi o Portugal e Espanha. Um belo jogo de futebol. Nos demais, o televisor ou o rádio ligado, mas sempre fazendo algo em paralelo. A copa, como encanto paralelo. Perdi muitos pedaços de jogo e vi alguns gols só em videoteipe. Como os de hoje. Não sei, então, nem tento, estabelecer análises de tática, técnica, desempenho. Aliás, estas análises andam chatas por aqui. Tentar criar sistemas lógicos que expliquem resultados, com índices de posse de bola, de chutes a gol, de onde a bola foi chutada, gráficos e mais gráficos, coloridos, bonitos. Não sei estas análises dão conta do jogo. A beleza de uma retranca, e como são belas as retrancas, quase nunca é observável dentro desses critérios matemáticos. Cannavaro nunca teria sido o melhor do mundo numa copa se os critérios de análise fossem só os de "show do intervalo".
Me disseram do Irã na partida com os espanhóis. Deve ter sido uma retranca lindíssima. Assim como foi a da Islândia. Nosso problema é tratar o futebol como obrigação de espetáculos e malabarismos circenses, quando na verdade são os imprevistos, os impossíveis, os incrédulos que dão perfume a este jogo, um dos poucos onde o melhor nem sempre ganha. Ninguém se apaixona pelo futebol numa partida do Barcelona ganhando com oitenta por cento de posse de bola. A gente pode admirar, achar um feito incrível, uma obra de arte, ter o gozo. Mas o que apaixona, aprisiona a bola no lado certo do coração, foi o dia em que o Mineiro recebeu um passe milimétrico do Aloísio Chulapa, entrou na área e caixa, time campeão contra um outro aparentemente muito superior. É a vitória do Valladolid num único ataque, nos seus dez por cento de posse de bola. É a vitória de Camarões na abertura da copa. E a dança do Senegal. A paixão só pode ser despertada num dia de vitória impossível. É o caneco do Leicester. É o Olaria do Afonsinho. Depois de instalada a paixão, a gente administra, transforma a paixão em amor, resolve querer ganhar sempre, aplaude e exige o bonito. Mas durante uma copa a gente percebe que amar é importante, mas paixão.... aaaaaaah..... paixão é foda, é bola na rede, é o salve-se quem puder na zona do agrião...
Na volta para casa, tentando recuperar os placares que perdi - num perdi muita cousa pelo jeitão de um a zero magrinho de todos eles - percebi que no meu bolão cravei Irã 1 x 1 Espanha. De certa forma, ainda tem paixão neste navio.
20 de junho, 2018. Portugal e Marrocos. Irã e Espanha. Uruguay e Arábia Saudita.
domingo, 6 de julho de 2014
Amaraladas na Copa 14 - Vinte Mais Cinco
Talvez a grande função mítica do domingo seja a de discutir o futebol. Uma imensa mesa redonda. Sim, é verdade que escolhem os domingos para festas pagãs, como dia disso, dia daquilo, dia daquilo outro. Também é verdade que as forças do atraso escolhem o domingo para infestarem aparelhos de televisão com aleivosias, bundas, peitos, machismos todos. E tem a visita aos parentes, no domingo. E tem também o jogo das quatro da tarde – menos na Copa que esse negócio de fazer tabela e olhar para as escrituras não combina com "fifa standards". Mas, deitado no jardim, olhando as belezuras todas, aposto e guardo: O homem estava pensando se vale a pena jogar com ou sem pontas de ofício.
Dito isso, mais uma verdade máxima, queria fazer pequenas digressões sobre o time nacional. Gosto dos poemas, das histórias outras que envolvem o jogo e tenho cá com meus botões que o jogo no campo, lá embaixo, é só uma grande desculpa para o resto. E por isso costumo ser péssimo em avaliações táticas, em quatro quatro três, quatro três dois um zero. Erro a conta, sempre. Mas gosto de bancar algum entendimento, como todos, aliás. Para mim o futebol mais simples do mundo – e eficiente – é aquele que tem gente certa no lugar certo. Tipo Valdir, Getúlio, Oscar, Dario e Marinho, Almir, Renato e Everton ou Heriberto ou Assis, Paulo César, Serginho e Zé Sérgio. Com o Zé ganhando o motorádio. Simples, bonito e batata.
Mas vamos ao esférico. No campo fizemos jogos regulares, e só. A primeira partida foi bem razoável se pensarmos que era estreia e teve Oscar fazendo uma boa exibição. Pela ponta, no ataque. E no meio, compondo, marcando, sendo. Foi naquele jogo a diferença e o parceiro para Neimar, que fez uma partida tranquila, mas chamando a responsabilidade. Se Paulinho não foi bem e Daniel, idem, se a impressão deixada é a de poderíamos melhorar, o fato é que contra os croatas mostramos credenciais: sorte, talento e alguma esperança. A nota fatídica, e se mostraria fatal durante o torneio, foi a apitada amiga do juizão na penalidade de Fred, cônico no mais. Depois daquele trinar as arbitragens foram nossas piores inimigas, para o bem e para o mal.
Contra o México tivemos uma exibição pífia e medrosa. Mas Neimar destilou aquele veneno da confiança e seu talento ficou ali nuzinho da silva como o acalanto: uma hora ele decide. Contra os Camarões tivemos uma exibição... fugaz. O time camaronês era de uma ruindade cósmica e qualquer resultado que não fosse uma boa vitória seria frouxidão. Passamos por cima, com sustos – porque o empate africano ainda teve bola na trava na sequencia. Mas com Neimar fazendo dois goles e assumindo o tal protagonismo. Mas a verdade é que Paulinho, Daniel e Oscar desapareceram. E Fred, que fez gol inclusive, passou mais uma vez a impressão de espectador.
A partida contra o Chile foi nossa pior surpresa. Um time perdidinho e um treinador completamente atônito. Não foram os choros, não, senhoures e senhouras, o fato denunciador de nossas dificuldades. Foi o restante todo, principalmente depois do primeiro tempo, principalmente depois do gol. Neimar tomou uma entrada dura e manquitolou. Com dores, não foi o mesmo. E aí apareceu a dificuldade atroz do time: a bola não dialogava mais na meia cancha. E o desaparecimento de Oscar foi definitivo. Mas a camisa este lá e Júlio César resolveu. Adiantou-se como Rogério, mas como é copa, amigos, tudo vale... Júlio foi bem e pronto.
Já a Colômbia nos divide. Alguns consideram grande a exibição. Entre eles um estranho PVC na ESPN Brasil (de longe a cobertura mais correta, interessante e bonita da copa), que resolveu ser escudeiro do treinador qualquer que fosse a dança. Outros destacam as dificuldades do fim do jogo. E Neimar, fora. O time fez um bom primeiro tempo. A Colômbia medrou, respeitou a camisa do outro lado e na sombra não foi capaz de reeditar outros feitos na copa. O time brasileiro, então, se firmou. A bola voltou a dialogar no meio. Oscar, sim, Oscar, voltou para a copa. Fernandinho e Paulinho, sim, Paulinho, trocaram passes, tempo e cadência. E Maicon no lugar de Daniel Alves foi a chave para dar segurança para a defesa e ajudar na composição rítmica do time. A exceção, Neimar. A partida do nosso dez era ruim, fraca. Sim, se apresentou, chamou o jogo, não se omitia. Mas não jogava. Algum desconforto. A pancada no jogo anterior talvez tivesse lá, doendo. Mas o time abusou da violência, um fato típico dos times de Felipão, com a complacência do árbitro. Faltinhas aqui, ali, acolá, daquelas que irritam. O juiz, nada, não amarelou ninguém. Os colombianos também subiram o tom e mesmo medrados batiam também. É verdade que nenhuma falta grosseira, mas o fato é que os marmanjos se estranhavam. Não ia acabar bem aquilo...
No segundo tempo, o pavor colombiano arrefeceu. Mas não oferecia perigos. Aí, saiu um gol que seria o de empate. A coisa desandou. Houve um impedimento, desses que só o vetê do vetê pode atestar, marcado pelo bandeirinha. Alívio. E logo depois, David Luís mandou um balaço, numa falta batida com esmero improvável, e caixa. Dois a zero. A vaga, o caneco.
Mas aí Felipão mostrou todas as suas limitações, evidentes. Poderia ter tirado Neimar, para poupar o jogador que visivelmente estava incomodado em campo. Poderia ter tirado Fred e testar um Hulk centralizado, para contragolpes. Poderia. Poderia. Mas fez os óbvios e Ramires no lugar de Paulinho ou Hulk, para “fechar” o jogo. Deixou Neimar lá, por medo talvez de ser criticado em caso de um empate – naquela hora absolutamente fora das probabilidades.
O resto, sabemos. Um gol colombiano, de penalidade. Pressão, ainda que mais na base do bumba meu boi do que efetiva conquista de espaços, e aumento da violência colombiana, já que a rispidez acaba sendo sempre a muleta nessas horas. Neimar, estivesse bem, tinindo, talvez pressentisse o choque e se protegesse. Não saberemos nunca. O fato é que uma jogada maldosa, mas infelizmente corriqueira, resultou no inesperado. Neimar fora da copa.
Para o próximo jogo, semifinal de copa, precisaremos de técnico. Precisaremos mudar o esquema de jogo. Talvez aí resida nossa grande chance e oportunidade. A bola precisa dialogar ali pelo meio. Oscar é fundamental para que isso funcione. E notem, tenho tanta simpatia pelo Oscar como tenho por um café gelado e ultra doce. Fred só faz sentido se a bola chegar. Já que não temos como fazê-la chegar, por falta absoluta de um Ganso, um Alex ou de um Neimar, talvez deixá-lo lá entre as cobras e lagartos da torcida e da imprensa seja inútil. Um cone, como foi até aqui. Talvez seja a hora de quadrados no meio, de triangulações, de conquistas de espaço pelo meio alemão, com calma. A correria é germânica. Nossa escola é outra e toque, recebe, Hernanes, Paulinho, Fernandinho e quiçá Willian. E Oscar, sim, Oscar. Lá do CT de Cotia os fundamentos, que vieram antes das traições. E Maicon. E treinar a pontaria do Hulk, que está mais descalibrada que pneu de bicicleta de criança. E uma rezasinha que ninguém é de ferro. Uma reza, macumba, quizumba, quizomba.
Eu jogaria de azul, também. Questão de gosto.
sábado, 28 de junho de 2014
Amaraladas na Copa 14 - Quinzão
Há certas cousas no mundo que deveriam ser tratadas com muito mais seriedade. Sim, digo dos programas de solidariedade internacional e das redes de proteção internacionais tentando mitigar o sofrimento de muitos, refugiados, expatriados, perseguidos. O combate intransigente contra a intolerância: de gêneros, de religiões, culturais, étnicos. E deveríamos cuidar mais, dentro desta lógica, de nossas identidades culturais, de nossas construções históricas - não só as construções com pedras, cimentos, argamassas, compasso, tijolo, cálculo, engenharia e tais - mas todas as construções que são fruto de nossa história: o samba, a valsa, o amor, a serpentina, a bola... o futebol.
Eu não entendo porque não é a ONU que organiza o futebol pelo mundo. Simplesmente não entendo. A ONU não é lá essas cousas, a gente sabe, tem muito mesmo o que melhorar, aprimorar, ser. Mas é uma construção importante, ao menos um indicador de que outro tipo de mundo seria possível, que outros mecanismos para resoluções de conflitos seriam necessárias, que não precisamos mais só de guerras. A ONU é um sonho. Mas é.
A FIFA é um balcão de negócio, principalmente depois que Havelange, aquele um que deveria ser esquecido pelo tempo e destinado ao ostracismo que nem o inferno é, é só esquecimento. Um pulha, com todo o perdão aos mais sensíveis e à família do cara. A federação deixou de ser o que Jules Rimet pensou um dia para ser só mais uma dessas multinacionais globais, cuja a pátria é só o crédito na conta de acionistas ou fedores assim. E o pior, a casa de tolerância monetária "organiza" uma daquelas paixões mortais que nos identificam como seres humanos - e, portanto, nos aproxima do sobrenatural, das deusas e deuses. Organiza e monopoliza um bem cultural da humanidade. E isso é lamentável, como processo histórico, político, econômico e cultural.
O futebol parou guerras e foi fundamento para outras. Mas não estamos falando só de um esporte que alimenta paixões. Estamos falando de nós. Estamos num Celtic versus Rangers. Estamos criando. Desde as regras simples do jogo, passando pelas inúmeras possibilidades que um time de onze jogadores, mais onze reservas, podem criar. Não é só para brutamontes, como vários outros desportos que necessitam da força física e do sobrepujar quase a morte o outro. Não é só talento e habilidade com os pés, senão não teríamos esta profusão de heróis cabeças de bagre, mas raçudos, onipresentes, volantes que desarmam e avantes que marcam com canelas, bicos de pé, púbis ou sei lá mais. Estamos a conversar e a construir, epopéias, vexames, desgraças, vitórias, derrotas, frangos, aritméticas, geometrias, sambas, livros, filmes, criação!!!!
A primeira fase da Copa no Brasil revelou muito disso. Que apesar dos fuínhas da federação, com suas echarpes no calor, com seu cheiro de colônia vencida, com seus arrotos, apesar dos cartões de crédito, dos bancos, das empresas de televisão, flui algo outro, que nos encanta. As histórias e as narrativas da copa de verdade, nas ruas, nos países, nos povos, no campo é fantástica. Sugiro aos mais incautos que persigam estas crônicas e relatos na copa em sítios como o Impedimento ou o Trivela. A história do garoto escocês que adora o atacante grego Samaras e o comovente depoimento do jogador sobre esta amizade. A façanha de Mondragon, o arqueiro cafetero que acaba de se tornar o jogador mais velho a atuar em um mundial, em três, na verdade. Drogba, que parou uma guerra em seu país. Eto se comparando a Obina e depois abraçando um moleque brasuca só pelo abraço. Das ruas de São Paulo, a cidade mais mau humorada do planeta as vésperas do mundial tomadas por uma intensa felicidade que se explica só e só pela bola, a esfera, a redonda, a menina, o balão. Do Maracanã, que vilipendiado, renasce num grito latino de chilenos,argentinos, uruguaios, colombianos e equatorianos. Do navio repleto de mexicanos. Das histórias de We Are The Bangladeshi Fans of Brazilian Football team, um país que não está na copa mas se reúne para falar, discutir, apreciar e se deixar encantar.
Do desespero dos conservadores americanos, porque lá nos States é o futebol que começa a despertar a multidão. Imaginem, no centro desta cultura mercantil, da vitória dos mais fortes, começarmos a apreciar o futebol como arte, como manifestação, como brinquedo e entenderemos as razões profundas deste temor. O futebol é outra cousa. E por isso mesmo não poderia ser tratado como simples mercadoria de gôndola.
Oxalá entendamos esta beleza e suas possibilidades, de fato infinitas... Merecemos. E muito.
A Fifa? Que vá a merda. Que é o seu lugar.
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quarta-feira, 25 de junho de 2014
Amaraladas na Copa 14 - Douze
Bastam
dois pares de chinelo. E pronto, temos o essencial para um jogo de
futebol. Os chinelos serão as traves. Dividimos os jogadores, quase
sempre metade para cada lado e pronto: A esfera roda. Na praia, na
praça, na grama do quintal, na rua, na sala de jantar. E lá seremos
outros, ainda que por instantes. Eu já fui Zé Sérgio, o melhor jogador
de futebol do planeta. Já fui Chulapa, Dario Pereira e Getúlio. Com o
Grande e o Pequeno sou Rogéeeeeeeeeeeerio. Já fui Sócrates, Rocheteau e
até Boniek. E fui o arqueiro camaronês Nkono. E Tilico, Élvio,
Bernardão, Zé Teodoro. E enfrentei e joguei junto nas mesmas equipes de Zico, Biro, Jorge Mendonça, Dicá, Juari, Lato, Kempes. O Grande já
foi Luis Fabiano, Robben e Cristiano Ronaldo. O Pequeno, Lucas, Messi e
ambos já foram, vejam só, para desgosto paterno, Neimar.
Nesses jogos de chinelo pouco importa o que a crítica especializada acha dos craques, quais as notícias, quem vai casar com quem, se o jogador é bom de família, se cai na noite ou sei lá mais que saramaleques. Nessas horas o que realmente importa é o que o Zé Sérgio fez pela gente. E pronto. Mas a gente cresce....
Algo em Cristiano Ronaldo me incomoda. Me incomoda, e muito, a forma como que boa parte da crítica "especializada" trata o português. Cristiano é um jogadoraço, um gênio, decisivo, craque, sobrenatural. Mas o que importa é o cabelo, o olhar para o vetê, o exibicionismo e a arrogância. Ou as vitrines de roupa, perfumes ou sei lás que ele, como marca, ajuda a vender.
Cristiano Ronaldo, baleado, numa seleção frágil e fraca, no último minuto de uma partida foi capaz de um lançamento milimétrico, preciso, com açúcar, para encontrar a cabeça de Varela, no único instante possível. E não foi um gol inexpressivo. Foi o gol que manteve as tênues e limitadas esperanças portuguesas de classificação para a segunda fase.
O mesmo locutor que faz a pilhéria, no desdém do gajo, enaltece outro, que é também craque, genial no campo, decisivo, sobrenatural, mas que vende cabelo, marca de cueca, olha para o vetê e faz dancinhas, coraçõezinhos, vende badulaques. Não se pode, mesmo, agradar a todos. Mas podíamos ser um pouquinho menos críticos da grama alheia.
Ou lembrar dos chinelos de trave e deixar os chatos para o depois do jantar.
Nesses jogos de chinelo pouco importa o que a crítica especializada acha dos craques, quais as notícias, quem vai casar com quem, se o jogador é bom de família, se cai na noite ou sei lá mais que saramaleques. Nessas horas o que realmente importa é o que o Zé Sérgio fez pela gente. E pronto. Mas a gente cresce....
Algo em Cristiano Ronaldo me incomoda. Me incomoda, e muito, a forma como que boa parte da crítica "especializada" trata o português. Cristiano é um jogadoraço, um gênio, decisivo, craque, sobrenatural. Mas o que importa é o cabelo, o olhar para o vetê, o exibicionismo e a arrogância. Ou as vitrines de roupa, perfumes ou sei lás que ele, como marca, ajuda a vender.
Cristiano Ronaldo, baleado, numa seleção frágil e fraca, no último minuto de uma partida foi capaz de um lançamento milimétrico, preciso, com açúcar, para encontrar a cabeça de Varela, no único instante possível. E não foi um gol inexpressivo. Foi o gol que manteve as tênues e limitadas esperanças portuguesas de classificação para a segunda fase.
O mesmo locutor que faz a pilhéria, no desdém do gajo, enaltece outro, que é também craque, genial no campo, decisivo, sobrenatural, mas que vende cabelo, marca de cueca, olha para o vetê e faz dancinhas, coraçõezinhos, vende badulaques. Não se pode, mesmo, agradar a todos. Mas podíamos ser um pouquinho menos críticos da grama alheia.
Ou lembrar dos chinelos de trave e deixar os chatos para o depois do jantar.
segunda-feira, 23 de junho de 2014
Amaraladas na Copa 14 - Dez
O vexame é das maiores forças vivas da natureza. Um grande vexame é capaz de feitos extraordinários, de desgraças colossais ou parir maravilhas maravilhosas, atômicas, sobrenaturais até.
O problema do vexame é sua digestão. Alguns não aguentam o batráquio, que costuma ser venenoso e ter espinhos, e caem na mais funda tristeza, solapam, avestruzam. Mas outros são capazes de tirar do evento um gosto de chance, de mais um gole, um riso gordo. Quem já viveu um vexame de proporções bíblicas, e todos humanos já vivenciaram ao menos um, sabe que o mundo pode reservar situações de prazer imenso mas, também, de pavor, medo e vergonha.
Numa copa há muitas chances de pequenos vexames. Uma escorregada, uma falha defensiva, um chute de pé muchibento, uma peste na arbitragem. Há também as chances de vexames médios. E há a oportunidade ímpar do vexame excepcional, daqueles capazes de fustigar a auto estima de forma excruciante, dolorosa, funda, futura cicatriz.
A verdade é que dá azar pensar nisso. Mas não deixa de ser deliciosamente furtivo, como que experimentar o proibido, imaginar o que poderia acontecer com um contra golpe fatal africano, de um camaronês com vestes e foice, ceifando com um gol inesperado os ares para se respirar. E nós todos de ouvidos e olhos no jogo do México, torcendo para que lá não aconteça o resultado impossível que nos desclassificaria, primeira fase em punhos, da copa organizada em casa. Porque Marin mereceria este desfecho, com toda a tintura no cabelo, com todo o laquê. Porque muitos de nossos jogadores mereceriam esta mácula, porque confundem as coisas e porque ignoram camisas, desejos, suores e anseios. Porque Parreira e Felipão, todos senhoures de bons modos, também mereceriam uma liçãozinha contra a empáfia e a subserviência.
O problema é que seria mais um vexame e só. Sim, um vexame pecaminoso, universal. Mas na nossa viperina estrutura de castas este vexame sobraria só para os bares, as lágrimas das crianças, o mau humor no dia seguinte. Não seria a imposição da necessária guilhotina nessa corja que toma conta do futebol e que transforma nossas bolinhas de gude e figurinhas de bafo em simples anotações de livro de caixa, entrada, despesa, resultados, balanço.
Portanto, seria um vexame e nada mais.
Assim sendo, que não tenhamos vexames tão gigantescos. Porque servirão só de dor aos cotovelos já feridos. E que ao menos escalem Hernanes, em qualquer posição, que uma copa sem sãopaulinos é como cerveja sem álcool.
quinta-feira, 12 de junho de 2014
A Arena Deserta
Preâmbulo
A
situação do grupo é dramática, como as leitoras deste prestigioso blog
futurologista estão cansadas de saber.
O
Brasil está de luto, tenso, com a morte de Oscar e a fuga do assassino Paulo
Henrique.
Para
quem não leu, ou não se lembra, eis os fatos e os resultados até o momento:
Brasil
2 x 2 Croácia (leia aqui)
México
2 x 1 Camarões (aqui)
Brasil
5 x 5 México (e
aqui)
Croácia
1 x 1 Camarões (Mãe DiNáder)
Para
facilitar as contas, a classificação:
|
PT
|
SG
|
GP
|
México
|
4
|
4
|
7
|
Brasil
|
2
|
0
|
7
|
Croácia
|
2
|
0
|
3
|
Camarões
|
1
|
0
|
2
|
O
Jogo
Tanto
já se falou, se escreveu, sobre as belezas de um estádio lotado e, de fato, até
aqui, as arenas bonitinhas até que andaram apinhadas de gente.
Mas
o jogo era de Copa e o estádio estava às moscas.
Na
verdade, me faziam companhia, além das moscas, uns duzentos mexicanos, atrás de
um gol, e cinqüenta croatas, atrás do outro. O único brasileiro desavisado era
eu.
Repito:
único.
Desavisado
porque, ao comprar o ingresso para este jogo, em Recife, não percebi que,
enquanto aqui jogariam Croácia e México, no mesmo bat-horário, em Brasília,
Brasil e Camarões se enfrentariam para decidir a classificação.
Fato
é que muita gente, com ingressos na mão, lotava bares e praças de Recife para assistir
ao jogo da seleção brasileira.
Eu,
na arena vazia, estava só. E como é belo o estádio vazio.
O
som do apito ecoou, longo, pelas arquibancadas. Vários segundos se passaram até
que se recobrasse o silêncio.
O
jogo era mero coadjuvante da arena deserta e seus sussurros. Os gritos dos boleiros,
as broncas do treinador, os xingamentos em croata, as parábolas descritas pela
bola e o encantador barulho de seu choque com a chuteira mexicana tiravam deste
expectador solitário a atenção sobre o jogo em si.
Sem
ninguém do lado para fiscalizar minha concentração, assisti à partida distraída,
descompromissadamente. A grande vantagem do estádio vazio é a cerveja gelada,
sem fila.
A
arena é moderna, padrão FIFA. O jogo, de Copa. Mas, na verdade, me sentia na
Rua Javari (quanta falta me faz um cannoli). Pensei: houvesse alambrado, lá
estaria a xingar o bandeirinha coreano.
Começou
o segundo tempo, a quarta cerveja descia gelada, mas o jogo seguia morno.
De
perto, o uniforme da Croácia era hipnótico. Uma toalha de pic-nic. Aumentava a
vontade de tomar cerveja.
Estava
no bar, pegando a sexta, quando o galego, já amigo, lápis numa orelha, radinho
na outra, resmunga que o Brasil não estava jogando nada e o placar teimava em
não sair do zero.
Pois
no que a frase do galego ecoou pelos corredores da arena fria, ouvimos uns
grunhidos vindos do campo.
Corri.
Gol
da Croácia. Persistindo o resultado, o Brasil estaria fora. México e Croácia,
classificados.
A
desclassificação prematura seria um golpe grande demais para a torcida
brasileira.
Bêbado,
me comovi.
Cambaleante,
voltei correndo ao alambrado invisível e, já sem as papas que a sobriedade me
impusesse à língua, desferi, solitário, os mais variados impropérios contra o
bandeira coreano, que acabara de anular um ataque mexicano. Ele olhava
assustado, como se entendesse tudo o que eu dizia.
Então,
o xingava mais ainda.
Xingava-o
porque, ainda que só, tinha companhia, pois, naquele momento, o Brasil inteiro queria
estar naquele alambrado invisível, para dizer para aquele bandeira que ele era
um grandissíssimo filho de uma puta. Que sua mãe,...
Enfim,
xingava-o porque não estava mais só, porque a ausência da torcida, me obrigava
a lotar, sozinho, um estádio.
Pulei,
gritei, xinguei, torci feito um louco, sozinho na multidão de cadeiras
amarelas, como se o estádio estivesse repleto.
Até
que o apito final ecoou doído e reverberou por todo o estádio. O jogo acabou.
Festa
dos presentes.
Epílogo
A
mim, restava o xixi derradeiro.
E,
na solidão acústica do banheiro perfeito, sem temer o ridículo, pensando na
arena vazia, nos bares cheios, cantarolei Pablo Milanéz: “Un homenaje / Para tu ausência / Lo llenas todo / Con tu presencia”.
Antes
de deixar o estádio, vou tomar a saideira e ver com o galego quanto acabou o
jogo do Brasil. A esperança é a última que morre. E alguém já disse: enquanto
houver gelo, há esperança!
Luís
Pini Nader
23/06/2014.
Croácia 1 x 0 México
Arena Pernambuco.
Público pagante: 151 pessoas
sexta-feira, 20 de dezembro de 2013
Las cosas cambian
Uma festa de arromba sempre é povoada
por uma fauna composta por tipos diversos que compõe a história
final que vai ser contada, por muitas gerações, sobre aquele
pequeno espaço de tempo. Dos eternos candidatos a reis e rainhas do
baile, àqueles de quem pouquíssimos lembram a presença, existe
toda uma constelação de tipos improváveis, belos, extravagantes,
enfim marcantes.
Chegando à capital potiguar, terra do
monumental Câmara Cascudo e do guerreiro time do Alecrim, percebi
que os meus 20 anos afastado dessa boa cidade tinham me transformado
num alienígena. Então saquei uma anotação do bolso e rumei para a
barraca do carangueijo na Ponta Negra.
Em
folhas de papel manchadas pelo óleo do peixe frito comecei a
esquadrinhar algumas linhas: o México, paixão minha desde moleque,
parecia dotado de uma bendição que no fundo era uma maldição;
vamos lá: com quinze participações em Copas (fato que a torna a
quinta seleção que mais participou do certame), o México era
aquele cara da turma que jamais furava, não ameaçava ninguém (os
expoentes-mór Hugo Sanchez e o longevo Carbajal não me deixam
mentir), sempre trazia a seleção mais animada e agradável de cada
Copa e nas duas vezes que tratou de organizar o certame, o fez no
mais lindo dos palcos, o Azteca e elevou definitivamente Pelé e
Maradona ao grau mais alto de suas carreiras. O México era o cara
mais legal da turma.
Por
outro lado, Camarões não merecia uma nota menor; em sua sétima
participação, Camarões inaugurou nas nossas cabeças o encanto e o
temor de que todo um continente cor de ébano estava chegando com
suíngue, malícia e habilidade e que o futuro do futebol jamais
seria como era até então. Isso em 1990, quando o esquadrão do vovô
Milla derrubou, de cara, os argentinos, bateu a carteira do
histriônico Higuita e fez o mundo sonhar por muitos dias.
Enfim, se o México é eternamente o
cara legal da turma, Camarões é um daqueles novatos ousados,
abusados do grupo, daqueles que todos sabemos que um dia pode virar o
rei do baile.
Rumo para o salão de bailes, digo, a
Arena das Dunas e a frente do estádio é uma festa só; sombreros
mexicanos, perucas e buzinas fazem um torto arranjo musical com
tambores africanos de camaronenses e outros africanos que se juntaram
à festa, enquanto a população de Natal vibra generosamente o sonho
aguardado por muitos anos.
Começa o jogo e o panorama para os
mexicanos é muito menos festivo do que parecia há instantes atrás;
classificada graças a dois goles sobrenaturais dos gringos, que os
mandaram para a repescagem, a “Tri” era hoje um time cheio de
marcas, retranqueiro, brigado com seus maiores craques, Chicharito e
Giovanni dos Santos. Os Camaronenses, depois de terem começado a sua
caminhada com uma manobra “fluminística” que eliminou o Togo e
terem se reconciliado de vez com Eto´o jogava com leveza, logo
arrebatando os corações potiguares.
O
jogo travado em seu meio de campo e cheio de faltas parecia rumar
para o fim, quando ele, Samuel Eto´o achou um espaço após uma
finta desconcertante no veterano Rafa Márquez e fuzilou; Camarões
1x0 México. Fim do primeiro tempo.
Intervalo de jogo e foi anunciada a
entrada do mascarado Chicharito. Poucos aplausos entre os mexicanos.
Começa o segundo tempo e o que se vê
é uma partida de um ataque versus uma defesa. Os africanos avançam
como guerreiros, enquanto os mexicanos totalmente retraídos tratam
de evitar o pior. O travessão mexicano é impiedosamente alvejado,
mas pela Nossa Senhora de Guadalupe, permanece inexpugnável. O calor
castiga as duas seleções.
Aos
28 minutos do segundo tempo, num rápido contra-ataque, Paul Aguilar
toca para Raul Jimenez, que avança e tabela com Peralta, que bate
sem defesa para o goleiro camaronense. Empate em 1x1.
Reiniciado o jogo e reiniciado o
massacre camaronense, impiedoso. Idrissou, Eto´o, Emanah, parecem
gladiadores arremetendo contra uma defesa mexicana perto da exaustão,
até que aos 42 do segundo tempo, o inacreditável.....Peralta tocou
para Pena, que viu Chicharito livre e lhe mandou um passe
açucarado....la “arvejita” passou batido por Song num lapso de
segundo e tocou na saída do goleiro Assembe, para de maneira
fantasmagórica virar o jogo para México 2x1 Camarões. Estava
finalizado o jogo.
Imparcial é o raio que o parta e eu
que já não conseguia conter as minhas lágrimas, fui prontamente
acolhido por um bando de mexicanos incrédulos, exaltados, também
com lágrimas nos olhos, ao que disse a um deles: “ustedes no
decian siempre que “jugavan como nunca y perdian como siempre”,
bien, hoy ustedes no jugaran nada y ganaran como nunca”. Abracei
fortemente a todos e me fui. Arriba México Cabrones!!!
Resultado
final : México 2x1 Camarões (Peralta, Chicharito e Eto´o) . Arena
das Dunas. 13.06.2014
Álvaro
Larrabure Costa Corrêa
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