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quinta-feira, 5 de julho de 2018
"Coluna do Meio"
Os especialistas estão todos absolutamente convencidos de que o campeão da copa da Rússia sairá do lado dos confrontos que tem França, Uruguai, Brasil e Bélgica. Os outros quatro, Suécia, Inglaterra, Rússia e Croácia são tratados como zebras, zebraças, zebrões. Há até algum desprezo, de canto de boca, quando falam de suecos e russos. Não deviam, acho eu, sonso que sou.
Há o imponderável no futebol e, só por esta frase quase lugar comum, devemos sempre e sempre amar e respeitar as zebras. Há poucas possibilidades em outros esportes, na vida, em tudo, de uma equipa mais fraca, menos cotada, ganhar uma peleja. A metáfora do Davi contra Golias funcionou bem mais no futebol do que em outras artes do inconsciente, incluindo as religiões. Todo mundo sabe, reconhece, recita ao menos uma zebraça. Incluindo canecos.
Mas se não fosse por admiração e carinho pelos resultados arruinadores de bolão, Suécia e Croácia deveriam ser tratadas com um pouquinho menos de desconfiança por razões históricas. Os suecos já foram vice campeões mundiais uma vez, em 1958, jogando em casa. Mas a primeira vez que os suecos disputaram uma copa, em 38, foram para as semifinais. E perderam para o Brasil de Leônidas da Silva a decisão do terceiro e quarto lugares. Em 50, no Brasil, ficaram na terceira colocação, atrás de Brasil e Uruguai. Em 70, foi desclassificada por ter pior saldo que o Uruguai, no grupo que ainda tinha a Itália. Itália que seria a vice campeã e Uruguai que disputaria a semifinal com o Brasil. E em 94, os suecos foram novamente para as semifinais, perderam outra vez para o Brasil, um gol de Romário quando todos já se preparavam para a prorrogação. Assim, os suecos não são novidade em fases final de copa. Há um filme maravilhoso, "Minha vida de cachorro", que, além de muitas cousas, retrata a paixão sueca pelo futebol. A Suécia tem um histórico em copas muito mais importante que a Inglaterra, que, sim, já foi uma vez campeã do mundo, ganha em casa e no apito, e só disputou mais uma semifinal. Duvido todos os meus botões que a Suécia perca da Inglaterra nestas quartas de final...
E a Croácia fez parte da Iugoslávia. Os iugoslavos estiveram duas vezes nas fases de semifinal nas copas, em 30 e 62, e a Croácia já chegou numa semifinal, em 98, sendo eliminada pela França que seria a campeã, de triste recordação para os brasileiros. E, não é insensato supor que as divisões que dilaceram a Iugoslávia, numa das guerras mais insensatas e violentas, eram fatores que desestabilizavam os iugoslavos, impedindo bons times de irem adiante em competições pelo mundo.
Gostamos de traçar medidas, índices, probabilidades e gastarmos nosso latim com observações sobre os mais fortes, os mais aptos, os mais preparados. Desconfio que esquecemos de fatores outros, destas pequenas esperanças que nascem de vidas imateriais pretéritas, de pequenas conquistas, de périplos anteriores. Muitos acreditam firmemente que um jogo de futebol se resolve naquele retângulo, com os vinte e dois em campo, mais os que entrarem substituindo titulares. Que uma partida de futebol começa e termina com o trinar de um apito...
A ilusão da objetividade é uma bola quadrada. E caceta, a Colômbia tinha que ter matado o jogo no primeiro tempo da prorrogação contra os ingleses. James Rodrigues seria o melhor em campo no jogo contra os suecos, não tenho a menor sombra de dúvida.
03 de julho, 2018. Inglaterra e Colômbia. Suécia e Suíça.
sexta-feira, 29 de junho de 2018
Trave de chinelas
Lá pelos idos de não sei quanto, o critério de desempate para os jogos do Torneio Início - um campeonato festivo que marcava o início do campeonato paulista, com jogos de meia hora, num único dia, uma verdadeira macarronada de domingo, em partidas eliminatórias do tipo perdeu tá fora - eram os números de escanteio. O argumento era que o escanteio comprovava que o time estava jogando no ataque, procurando gol, então, no desempate, escanteio era gol.
Não sei se a regra do torneio Início era boa. Mas era oitocentas e quinze mais mais lógica e prudente que esta regra safada que a federação internacional de futebol associado tem adotado: a do "Jogo Limpo". Nas competições organizadas pela federação, premia-se quem tem menos cartões como critério de desempate. Obviamente, a regra macabra foi utilizada para definir um dos classificados o mais jururu para as oitavas de final nesta copa, na vaga disputada entre Japão e Senegal. Os japoneses ficaram com a vaga por ter tomado dois cartões amarelos a menos que os senegaleses.E o que aconteceu? Os asiáticos, sabendo do resultado da partida entre Senegal e Colômbia, mesmo perdendo o confronto com a Polônia, passaram os últimos cinco minutos num verdadeiro toco de lado recebo de volta. Uma ode ao oportunismo de quintal, aquele da grama do vizinho.
No fim, a seleção que praticou um joguinho mequetrefe de ocasião acabou se classificando na regrinha do "fair play", num contrassenso típico de fazer propaganda de refrigerante antes da matéria que alerta dos riscos da obesidade infantil. Ou, propaganda de banco e logo depois aquele analista cu de ferro vem explicar do problema da inadimplência contribuindo para os índices débeis da economia.
E é óbvio que a imprensona do mundo resolveu tacar o tacape nos japoneses, tratando a manobra do time como laranja podre, que aquele joguinho de engana nos últimos minutos foi uma manobra aviltante, mais terrível que xingar a mãe. Mas, carambolas cósmicas, porque diachos existe uma regra dessas? O amarelo, o cartão, é um sanção e se insere dentro das possibilidades da partida. O amarelo recebido numa partida duríssima, por causa de uma falta que impediu o prosseguimento da jogada, não pode se equipar com um amarelo por comemoração de gol. Aliás, amarelo em comemoração de gol é outra dessas cretinices de emoldurar. O amarelo é um sinal de alerta, uma admoestação preliminar, mas que leva em conta única e exclusivamente as condições objetivas e subjetivas, o drama e a miséria, daquela partida singular, que nunca mais se repetirá.
Melhor o critério do escanteio. Pelo menos se premiaria quem chegou na última linha de defesa da cidadela adversária, tentando ganhar o pote de ouro do castelo. Melhor ainda era chamar japoneses e senegaleses para um encontro no ginásio coberto da escola pública mais próxima, para fazer um "vai a um", gol caixote, meio campo, seis de cada lado, sem goleiro mas com a regra de no mínimo três toques. Uma regra simplesinha, que toda criança que jogou futebol sabe identificar.
Ou, sei lá, classificar o Irã.
28 de junho, 2018. Japão e Polônia. Colômbia e Senegal. Inglaterra e Bélgica. Panamá e Tunísia.
terça-feira, 26 de junho de 2018
Para ler ao som de Pinduca, Dona Onete y Ruben Rada, porque no???
Daquelas cousas indesculpáveis, não ter dado a chance ao Mangueirão de sediar partidas de uma copa do mundo talvez sido uma das mais retumbantes bobagens de nossa história contemporânea. O estádio principal da cidade de Belém, no Pará, sedia uma das rivalidades mais estrondosas do futebol: Remo e Paysandu. E, de quebra, abrigou jogos da simpática Tuna Luso durante os anos dourados do cruzmaltino. A rivalidade entre o Remo e o Paysandu, Leão e Papão, é capaz de lotar estádios em jogos das séries A, B, C, D, do alfabeto inteiro.
Ignorar, por razões de sei lá qual ordem, esta rivalidade durante o preparo para a copa do mundo e escolher outras sedes, sedes em que o futebol era mero pretexto, demonstra muito da nossa incapacidade de entender o futebol como elemento central de nossa cultura, de nosso país, de nossa civilização. Não foram os portugueses que deram unidade ao Brasil. Foi a Rádio Nacional, foi Leônidas da Silva, foram Pelé, Didi e Garrincha. Internacional, Grêmio, Cruzeiro, Atlético, Sport, Náutico, Santa Cruz, Bahia, Vitória, Remo, Paysandu, Flamengo e River. Com um pouco de paciência, num boteco, poderíamos escrever um grande tratado de sociologia, antropologia, economia e política somente conversando sobre futebol.
O Brasil tem uma elite que odeia o Brasil. E para exercitar este ódio mascara, avilta, machuca, esquece nossa história. Nunca deu tratos à nossa maior ignomínia, ao nosso maior vexame, a escravidão. Na escola temos uma aula que diz que foi assinada uma lei por uma princesa bondosa e pronto, borracha. Não tratamos de nossa recente ditadura civil militar, não responsabilizamos o estado pela barbárie, pela tortura. Aprendemos que teve um golpe, que teve colégio eleitoral, que teve Tancredo, que Tancredo morreu, Sarney assumiu e acabou a ditadura, borracha. Nunca tratamos das borrachas, borrachadas, esculachos das forças de segurança contra a população mais pobre, negra. Aprendemos índices de violência e naturalizamos o confronto polícia e ladrão. Não nos furtamos em afastar uma mulher da presidência do país, eleita, só porque não íamos com a veneta dela, porque ela era mulher, usando argumentos os mais hipócritas possíveis. Nas escolas não se fala mais de Kuarup.
Não é diferente no futebol. Não temos interesses em ensinar nossa história nas copas, nos campeonatos. Basta afirmar que somos os melhores do mundo, no ufanismo idiota, como que brotando magicamente. Estamos esquecendo de Pelé e sem Pelé não há Zico, sem Zico não há Romário, sem Romário não há Ronaldo, sem Ronaldos não há Neymar. Pelé já é algo distante, alguns tratam como anedota ou como figura mítica, daquelas que perdem importância porque não precisamos mais de "Vitasay".
Sem Maracanazzo não há 58. E sem 58, senhouras, senhoures, não há Brasil. Quanto mais distante for 58, mais nos distanciamos daquilo que poderia nos caracterizar como civilização, a civilização brasileira. Didi da Guiomar, Garrincha, Djalma e Nilton Santos. Éramos mais felizes e não porque a nostalgia alimenta. Porque tínhamos um sonho que ia muito além de fazer compras em Miami ou morar em Lisboa.
A magistral partida da Colômbia contra a Polônia não se resume no passe saboroso de James para o tento de Mina, nas alturas. Nem do toque sutil de Quintero para o arremate lindo de Falcão Garcia. Muito menos na pintura de capela que foi o lançamento de James para o terceiro gol de Cuadrado. O magistral esteve no abraço de Higuita e Valderrama nas arquibancadas, um abraço de mais de mil palavras.
Nas coletivas de imprensa após a vitória indiscutível contra os russos, os jornalistas uruguaios perguntaram para o "maestro" Oscar Tabarez - o mais velho dos treinadores nesta copa e o que mais vezes a disputou como treinador, 1990, 10, 14 e 18 - sobre a partida e o que ele achava da Celeste ganhar dos anfitriões, assim como ganhou da África do Sul em 2010, da Argentina na Copa América de 2011 e do Maracanazzo, 1950. Celeste Olímpica, vencedora das Olimpíadas de 1924 e 1928, as outras duas estrelas que compõe o conjunto de quatro na camisa azul que entorta varal, mesmo sendo de um país pequenino de território.
O Remo está na série C do Brasileirão. O Paysandu na B. A Tuna Luso disputa a segundinha do paraense. No sítio da internete da Tuna, garbosamente, se anunciam dois títulos nacionais. Eu, correria lá para ler.
25 de junho, 2018. Uruguai e Rússia. Arábia Saudita e Egito. Irã e Portugal. Espanha e Marrocos.
segunda-feira, 25 de junho de 2018
Quando o marreco sorridente também gritou gol!
Era domingo. Último dia da segunda rodada da copa. Nas duas primeiras rondas, neste formato de grupos de quatro, são muito maiores as chances do lúdico, do brincar. Depois, tudo ganha ares de seriedades excessivas, classificações, epopeias, desastres, glória, fracasso, vexame, sete a um, dinastias e bebedeiras. Mas no comecinho, não. Ali naqueles primeiros momentos temos os sonhos de um Panamá campeão do mundo, de um gol antológico, de passes com azeite, bolas com açúcares, planos, brinquedos. Com jogos todos os dias, muitos jogos, muitas bolas, muito assunto. O deleite.
Sim, há na segunda rodada as desclassificações prematuras - ninguém deveria ser sumariamente eliminado na segunda rodada e as regras perfeitas um dia levarão isso em conta nalguma fórmula mágica. Mas, a rigor, todos tem chances. Até o time mais estrombólico, caricato ou sovina. É um grande barato, basta gostar de picolé. Eu gosto muito de acompanhar estas rodadas ouvindo jogos pelo rádio. Há uma fantasia nas narrações pelo rádio que nos transportam para mundos paralelos. Ouça o centésimo gol de Rogério num desses videozins de vocêtubo e percebam que para cada narrador, um desenho, uma mágica, um conto. Até parecidos, mas diversos. O rádio, o futebol pelo rádio, vai muito além da imagem televisionada: é a imagem imaginada.
De uns tempos para cá, com o advento dos aparelhos de telefone móveis, pequenas máquinas de computadores muito mais possantes que os PCs dos tempos remotos de colégio, há aplicativos e possibilidades de conhecer e escutar rádios de todos os lugares do mundo. Este sempre foi um sonho que acalentei, toda vez que tentava colocar as antenas dos radiotransmissores que passavam pelas minhas mãos e tinham a frequência das "ondas curtas". Com o celular, as ondas curtas funcionam mesmo. Basta um sinalzim das internetes.
Voltando ao domingão, fui ao parque com minha filha pequenina no horário do jogo do Senegal. Fui de carrinho e pude num plano infalível ouvir trechos do jogo. Um fone num ouvido e outro pronto para ela. Só quando ela quis dar milho e piruá para os patos é que deixei os fones. A menina adentrou corajosamente ao setor de patos e galinhas, galos e pintinhos do parque e eu resolvi que era melhor marcar de perto a atacante do meu próprio time, já que ornitologia é uma ciência que demanda total atenção e bicada de pássaro dói mais que chuteira de trava na canela. Bom, a menina andou para cima e para baixo, correu, correu de novo, subiu com a boneca para lá, para cá, conversou com o baile todo e, obviamente, se cansou. E pediu colo.
Lá pelas tantas ela estica as mãozinhas para os fones de ouvido. Estica, resmunga e só para quando eu entrego para ela. Automaticamente, ela coloca os fones nos ouvidos dela. Sem som, porque estavam desconectados. Reclama, aponta para o telefone, resmunga, chora. "Tá filha, vou ligar."
Antes de procurar alguma música, o celular estava conectado a uma rádio de Dakar, Senegal. Senegal e Japão faziam seu jogo na copa. Não entendia nada. Era um "Senegale hã Japonaise hã" que imaginei ser um a um o placar. O fato é que o narrador desembestou a gritar exatamente na hora que a menina recolocava os fones, desconfio que foi o segundo gol senegalês: "Futebó! Futebó, papai". E sorri gostoso.
O pai? O pai quase evapora naquele sorriso. E colocou o outro fone tentando descobrir se tinha sido mesmo gol...
24 de junho, 2018. Senegal e Japão. Inglaterra e Panamá. Colômbia e Polônia.
terça-feira, 19 de junho de 2018
O jogador que falta a seleção
Eu gosto de copa. Mas tem muitas cousas que eu não entendo. Uma delas, pujante, é o diacho de interromperem as partidas da série A do Brasileiro, a Libertadores e a Sulamiranda. Abraçados aos meninos e com a menina pulando entre nós no sofá, me perguntam os dois: "quando é que o São Paulo vai voltar a jogar?". Já estou na fase de não saber responder a todas as perguntas deles...
Alguns vão dizer que não dá para competir com o certame mundial, que seria uma espécime de cereja oficial da federação que organiza a bagaça toda. Outros irão dizer que não teria como porque exauriria as pessoas com tantas informações sobre o futebol. Outros, os diretores da empresa que monopoliza as ideias do país - essencialmente esses, acham que iam ter que contratar jornalistas, equipes de esportes e equipes operacionais, para poder dar conta de eventos simultâneos como estes e ficaria muito oneroso. Eu, aqui do breu das tocas, acho tudo isso cascata, lorota, falta de comprometimento ou o excesso doutro comprometimento qualquer outro.
Começa errado, por direitos de transmissão comprados a preços exorbitantes, que uma única empresa detenha o poder de transmissão sobre os jogos de todos os campeonatos. É o capitalismo de merda que o país está acostumado desde sempre, onde a "competição" só interessa no quinhão alheio. Não sei porque os órgãos de proteção ao mercado simplesmente não proíbem este tipo de concentração de atividade econômica e cultural. Devia ser regra: transmite o Brasileirão, não transmite a Copa. Transmite o Paulistão, não transmite o Carioca. Tem contrato com o Corinthians, não tem com o Flamengo. Transmite Olimpíadas, não transmite Fórmula Um. Simples assim. Concentração é um bode, não é? Mas nosso liberalismo é herdeiro de capitanias, neto de feudos, bisnetos de castas. Ou uma outra saída, linda de marrédessi que seria liberar o sinal para todo mundo. Eu, aqui de casa, transmito o que quiser.
E segue errado, porque a pausa no campeonato interrompe o coito. Lembro de uma Libertadores que o São Paulo enfrentou o Cruzeiro.Estávamos com os mineiros entalados porque tínhamos sido eliminados num ano anterior, sem chutar uma bola no gol em cento e oitenta minutos. Era eliminatória, o time estava naquele vai não vai. Mas antes da série, pudemos inscrever novos jogadores. Inscrevemos Fernandão. Fernandão fez história no Internacional de Porto Alegre, uma bonita história, e no Goiás. Pois bem, Fernandão fez duas partidas monumentais, Messi no chinelo, acabou com o Cruzeiro, tirou o nó e prometia mundos e fundos. Pausa para copa. Nunca mais. Fernandão teve passagem breve, nem titular foi durante o resto do período que ficou no tricolor. Perdeu o trem. Fernandão era um cara legal.
Escrevo estas linhas como um desabafo, preocupado, com os rumos da prosa. Nenê, nosso sete, mais de trinta e cinco de RG, anda fazendo partidas de gala e garbo neste Brasileiro. O São Paulo fez mais pontos em doze rodadas do que em todo o primeiro turno do ano passado. Fico aqui matutando se esta pausa para a Copa não vai tirar esta adrenalina de nosso artista e voltará macambúzio destas férias forçadas...
Ao menos neste ano a Série B não parou. O Fortaleza segue fazendo uma campanha de Canal 100 e agorinha a noite estavam jogando Avaí e Guarani, na Ressacada. O estádio estava animado. No Guarani, Édson Silva desfilava na zaga. Édson foi,por um curto período, é verdade, o maior brasileiro vivo quando ocupou a bequeira do São Paulo: foram um ou dois jogos messiânicos. O cara chegou a cabecear o chão lutando por uma bola. Do lado do Avaí, também na zaga, Betão, ex Corinthians. Foi de Betão o gol que terminou com a fase mais bonita do Majestoso, onde bastava o Corinthians jogar com o São Paulo para acabar em crise: o 5x1 na estréia de Autuori, as quedas de treinadores, o show de Amoroso naquele jogo que teve que ser refeito pelo rolo da arbitragem. No ano do rebaixamento, logo após o São Paulo ganhar o caneco de forma antecipada, Betão fez o um a zero que tirou o Corinthians da fila. Depois daquele jogo o Majestoso anda dando mais dor de cabeça do que resultando em pão na chapa.
Quando era menino, gostava também de jogar bola nos dias da Copa. O monotema era bálsamo. Desliguei o televisor, estava dois a zero para o Avaí. Os meninos dormiram, a menina dormiu, a casa em silêncio, vim escrever. Procurando os gols dos jogos de hoje na copa, quase li uma notícia da contusão do Neymar. Antes de abrir a aba, num canto, o nome de Aguirre pula na tela e me chama: "São Paulo faz treino com três zagueiros, Aguirre relembra os tempos vitoriosos de Muricy: Se é o melhor para o futebol, não sei. Mas é o melhor para o São Paulo.". Me emocionei, confesso.
Em tempo: Avaí e Guarani empataram, um elétrico 3 a 3.
19 de junho, 2018. Japão e Colômbia. Senegal e Polônia. Egito e Rússia.
quinta-feira, 10 de julho de 2014
Amaraladas na Copa 14 - XXIX
Odeio esse negócio de clubismo. Acho um saco. Já disse isso aqui e como sou um cara obsessivamente repetitivo, repito.
Acho o fim da picada esse negócio de analisar seleção pensando no clube. Se tem alguém do time, vermute, limão e gelo no copo. Não tem, aquele azedume azedo e cara feia e mau humor. Que coisa...
Mas tem um "clubismo" piorado quando a gente fala de copa e de seleção. É aquele que define quem é quem na copa, nas infindáveis listas dos melhores e eteceteras e tals. Porque aí, mesmo um time moribundo, porque é o nosso país e cousa e lousa, tem sempre um queridinho da seleção do torneio. Um prêmio de consolação para as mágoas. Acho isso o fim da goiabada, cascão e com muito queijo. E neste caso, sem beijo da mulata.
A derrota de sete tem lá suas virtudes, neste vesparéu todo. Ninguém vai colocar ninguém do time brasileiro na esquadra do mundial. Quando a gente perde o rebolado, melhor perder de vez as vergonhas todas, mas mantendo a classe.
Nossos zagueiros podiam estar na lista, alguns resistentes ainda dirão. No que respondo que um sacode de sete, cabal e cabalístico, não permite galhofas. "Mas e o Tiago?". Ora pro nóbis, Tiago tomou o amarelo mais bunda da história dos amarelos. "Mas o juiz foi rigoroso, ele não viu o goleirão Ospina." Bom, duendes existem e ele empurrar a menina pelota para o gol vazio, jogada parada, vale o amarelo só de pirraça.
Feitas estas observações singulares e sempre isentas - um traço de personalidade feroz deste que vos escreve - escalo minha seleção do mundial de 2014. Antes da final, que quem escala depois da final é um pouquinho como comentarista de arbitragem depois do décimo vetê tira teima leima leiba.
Anotem os clássicos.
Na defesa: Navas, da Costa Rica no gol. O alemão e capitão multi funcional Lahn na lateral direita. O zagueiro, também germânico, Hummels, de um lado. E o costa riquenho Gonzales na outra. Na lateral esquerda, um indiscutível Álvaro Pereira do Uruguay. Aliás, tivesse o Uruguay ido mais longe o lateral sin duda ninguna era candidatérrimo à bola de ouro.
Na linha média, onde o agrião deveria ser cultivado: Mascherano, da Argentina. Tony Kross, da Alemanha. Lionel Messi, de todos nós. E James Rodrigues, da Colômbia.
No ataque, onde o agrião é zona: Robben, da Holanda. E Muller, da Alemanha. Opa... goool da Alemanha.
O melhor do torneio? Putz... divido o prêmio em dois, que sou chegado numa confusão de conceitos: O jogador mais importante do torneio, Mascherano. Por razões óbvias. E o melhor jogador da copa, o Kross da Alemanha. O que ele fez na terça foi só a cereja.
É isso. E... Vou ao sal de fruta... deu uma azia leve aqui. De novo.
domingo, 6 de julho de 2014
Amaraladas na Copa 14 - Vinte Mais Cinco
Talvez a grande função mítica do domingo seja a de discutir o futebol. Uma imensa mesa redonda. Sim, é verdade que escolhem os domingos para festas pagãs, como dia disso, dia daquilo, dia daquilo outro. Também é verdade que as forças do atraso escolhem o domingo para infestarem aparelhos de televisão com aleivosias, bundas, peitos, machismos todos. E tem a visita aos parentes, no domingo. E tem também o jogo das quatro da tarde – menos na Copa que esse negócio de fazer tabela e olhar para as escrituras não combina com "fifa standards". Mas, deitado no jardim, olhando as belezuras todas, aposto e guardo: O homem estava pensando se vale a pena jogar com ou sem pontas de ofício.
Dito isso, mais uma verdade máxima, queria fazer pequenas digressões sobre o time nacional. Gosto dos poemas, das histórias outras que envolvem o jogo e tenho cá com meus botões que o jogo no campo, lá embaixo, é só uma grande desculpa para o resto. E por isso costumo ser péssimo em avaliações táticas, em quatro quatro três, quatro três dois um zero. Erro a conta, sempre. Mas gosto de bancar algum entendimento, como todos, aliás. Para mim o futebol mais simples do mundo – e eficiente – é aquele que tem gente certa no lugar certo. Tipo Valdir, Getúlio, Oscar, Dario e Marinho, Almir, Renato e Everton ou Heriberto ou Assis, Paulo César, Serginho e Zé Sérgio. Com o Zé ganhando o motorádio. Simples, bonito e batata.
Mas vamos ao esférico. No campo fizemos jogos regulares, e só. A primeira partida foi bem razoável se pensarmos que era estreia e teve Oscar fazendo uma boa exibição. Pela ponta, no ataque. E no meio, compondo, marcando, sendo. Foi naquele jogo a diferença e o parceiro para Neimar, que fez uma partida tranquila, mas chamando a responsabilidade. Se Paulinho não foi bem e Daniel, idem, se a impressão deixada é a de poderíamos melhorar, o fato é que contra os croatas mostramos credenciais: sorte, talento e alguma esperança. A nota fatídica, e se mostraria fatal durante o torneio, foi a apitada amiga do juizão na penalidade de Fred, cônico no mais. Depois daquele trinar as arbitragens foram nossas piores inimigas, para o bem e para o mal.
Contra o México tivemos uma exibição pífia e medrosa. Mas Neimar destilou aquele veneno da confiança e seu talento ficou ali nuzinho da silva como o acalanto: uma hora ele decide. Contra os Camarões tivemos uma exibição... fugaz. O time camaronês era de uma ruindade cósmica e qualquer resultado que não fosse uma boa vitória seria frouxidão. Passamos por cima, com sustos – porque o empate africano ainda teve bola na trava na sequencia. Mas com Neimar fazendo dois goles e assumindo o tal protagonismo. Mas a verdade é que Paulinho, Daniel e Oscar desapareceram. E Fred, que fez gol inclusive, passou mais uma vez a impressão de espectador.
A partida contra o Chile foi nossa pior surpresa. Um time perdidinho e um treinador completamente atônito. Não foram os choros, não, senhoures e senhouras, o fato denunciador de nossas dificuldades. Foi o restante todo, principalmente depois do primeiro tempo, principalmente depois do gol. Neimar tomou uma entrada dura e manquitolou. Com dores, não foi o mesmo. E aí apareceu a dificuldade atroz do time: a bola não dialogava mais na meia cancha. E o desaparecimento de Oscar foi definitivo. Mas a camisa este lá e Júlio César resolveu. Adiantou-se como Rogério, mas como é copa, amigos, tudo vale... Júlio foi bem e pronto.
Já a Colômbia nos divide. Alguns consideram grande a exibição. Entre eles um estranho PVC na ESPN Brasil (de longe a cobertura mais correta, interessante e bonita da copa), que resolveu ser escudeiro do treinador qualquer que fosse a dança. Outros destacam as dificuldades do fim do jogo. E Neimar, fora. O time fez um bom primeiro tempo. A Colômbia medrou, respeitou a camisa do outro lado e na sombra não foi capaz de reeditar outros feitos na copa. O time brasileiro, então, se firmou. A bola voltou a dialogar no meio. Oscar, sim, Oscar, voltou para a copa. Fernandinho e Paulinho, sim, Paulinho, trocaram passes, tempo e cadência. E Maicon no lugar de Daniel Alves foi a chave para dar segurança para a defesa e ajudar na composição rítmica do time. A exceção, Neimar. A partida do nosso dez era ruim, fraca. Sim, se apresentou, chamou o jogo, não se omitia. Mas não jogava. Algum desconforto. A pancada no jogo anterior talvez tivesse lá, doendo. Mas o time abusou da violência, um fato típico dos times de Felipão, com a complacência do árbitro. Faltinhas aqui, ali, acolá, daquelas que irritam. O juiz, nada, não amarelou ninguém. Os colombianos também subiram o tom e mesmo medrados batiam também. É verdade que nenhuma falta grosseira, mas o fato é que os marmanjos se estranhavam. Não ia acabar bem aquilo...
No segundo tempo, o pavor colombiano arrefeceu. Mas não oferecia perigos. Aí, saiu um gol que seria o de empate. A coisa desandou. Houve um impedimento, desses que só o vetê do vetê pode atestar, marcado pelo bandeirinha. Alívio. E logo depois, David Luís mandou um balaço, numa falta batida com esmero improvável, e caixa. Dois a zero. A vaga, o caneco.
Mas aí Felipão mostrou todas as suas limitações, evidentes. Poderia ter tirado Neimar, para poupar o jogador que visivelmente estava incomodado em campo. Poderia ter tirado Fred e testar um Hulk centralizado, para contragolpes. Poderia. Poderia. Mas fez os óbvios e Ramires no lugar de Paulinho ou Hulk, para “fechar” o jogo. Deixou Neimar lá, por medo talvez de ser criticado em caso de um empate – naquela hora absolutamente fora das probabilidades.
O resto, sabemos. Um gol colombiano, de penalidade. Pressão, ainda que mais na base do bumba meu boi do que efetiva conquista de espaços, e aumento da violência colombiana, já que a rispidez acaba sendo sempre a muleta nessas horas. Neimar, estivesse bem, tinindo, talvez pressentisse o choque e se protegesse. Não saberemos nunca. O fato é que uma jogada maldosa, mas infelizmente corriqueira, resultou no inesperado. Neimar fora da copa.
Para o próximo jogo, semifinal de copa, precisaremos de técnico. Precisaremos mudar o esquema de jogo. Talvez aí resida nossa grande chance e oportunidade. A bola precisa dialogar ali pelo meio. Oscar é fundamental para que isso funcione. E notem, tenho tanta simpatia pelo Oscar como tenho por um café gelado e ultra doce. Fred só faz sentido se a bola chegar. Já que não temos como fazê-la chegar, por falta absoluta de um Ganso, um Alex ou de um Neimar, talvez deixá-lo lá entre as cobras e lagartos da torcida e da imprensa seja inútil. Um cone, como foi até aqui. Talvez seja a hora de quadrados no meio, de triangulações, de conquistas de espaço pelo meio alemão, com calma. A correria é germânica. Nossa escola é outra e toque, recebe, Hernanes, Paulinho, Fernandinho e quiçá Willian. E Oscar, sim, Oscar. Lá do CT de Cotia os fundamentos, que vieram antes das traições. E Maicon. E treinar a pontaria do Hulk, que está mais descalibrada que pneu de bicicleta de criança. E uma rezasinha que ninguém é de ferro. Uma reza, macumba, quizumba, quizomba.
Eu jogaria de azul, também. Questão de gosto.
sexta-feira, 4 de julho de 2014
Amaraladas na Copa 14 - Vinte e Quatro
Muito se falará de Brasil e Colômbia. Muito. Da classificação. Da camisa.
De um árbitro péssimo, frouxo, conivente, cretino. Tivesse pulso e amarelado, desde o primeiro tempo, as ríspidas disputas de bola entre os times talvez não perderíamos Neymar. A entrada imprudente e maldosa do zagueiro colombiano poderia, sim, ter sido evitada. E o pior, feita, sacramentada, não teve nenhuma sanção. Cagalhão, o juiz.
Falaremos da zaga brasileira. Falaremos do bom primeiro tempo. Sofreremos pelo camisa dez, um sofrimento sofrido, mesmo para quem possa ter sei lá quais diferenças com o craque. Me incluo aqui. Mas perde o futebol, perde muito. Mais do que o Brasil. Muito mais. Que se recupere bem. Com a calma necessária. Se estamos na semifinal muito e muito se deve ao menino.
Mas quero
relembrar outro momento do jogo. Trinta e poucos minutos. Primeiro
tempo. Na tevê o jogo seguia, já um a zero. No rádio, a bola rolava.
Saiu para a lateral.
Nada no mundo tem mais gosto de bala suprasumo, de futebol no intervalo entre aulas, de sorriso, do que a voz de José Silvério. Nas minhas memórias, Silvério é um trunfo. Gosto de imaginar os jogos que não vi na voz do locutor da Pan, com comentários de Orlando Duarte, o eclético, reportagens de Vanderlei Nogueira e Cândido Garcia. Era assim, assim mesmo, que eram meus domingos, minhas quartas a noite. "A bola pedindo me chuta, me chuta, me chuta... ele veio e encheu o péeeeeeee!". Sim, Osmar Santos e a gorduchina, o balão de Fiori. Mas a narração no meu radinho sempre escolhe o Silvério, depois é que buscamos o São Paulo noutras emissoras.
Silvério está na rádio Bandeirantes. A equipe de transmissão é outra. A voz também. Mas ele ainda narra o jogo em cima da bola, como diria o Chacrinha. Por causa dele levo o rádio para ouvir os jogos. A tevê ligada e a voz dele lá, zunindo o lance e soltando a voz. O rádio está sempre um cadinho na frente do lance da tevê, porque o rádio está sempre na jogada, em pleno estádio. A imagem necessita de umas mágicas para virar onda e entrar em tubos, buracos, fios, parafernálias e cousas deste tipo. "Pra fooooora!". No rádio o jogo é. Na imagem, foi.
Aos trinta e pouco minutos, a voz faltou. Aos trinta e poucos minutos Silvério pediu permissão para deixar outro narrar, porque a rouquidão implacável o marcava, agonia, a voz não saía. Fiquei ali esperando ele voltar, até o final do jogo. Não voltou. Provavelmente um chá de limão, algum descanso, alguma mandinga e ele volta. Mas hoje, hoje, não voltou. Por mais que isso possa parecer bobo, diante de todo o resto, do jogo, da bola, do trem todo, me atacou as nostalgias, as lembranças, os carinhos todos. E quis muito e mais uma vez o mundo parar.
"Booooola rolando no Morumbi."
Nada no mundo tem mais gosto de bala suprasumo, de futebol no intervalo entre aulas, de sorriso, do que a voz de José Silvério. Nas minhas memórias, Silvério é um trunfo. Gosto de imaginar os jogos que não vi na voz do locutor da Pan, com comentários de Orlando Duarte, o eclético, reportagens de Vanderlei Nogueira e Cândido Garcia. Era assim, assim mesmo, que eram meus domingos, minhas quartas a noite. "A bola pedindo me chuta, me chuta, me chuta... ele veio e encheu o péeeeeeee!". Sim, Osmar Santos e a gorduchina, o balão de Fiori. Mas a narração no meu radinho sempre escolhe o Silvério, depois é que buscamos o São Paulo noutras emissoras.
Silvério está na rádio Bandeirantes. A equipe de transmissão é outra. A voz também. Mas ele ainda narra o jogo em cima da bola, como diria o Chacrinha. Por causa dele levo o rádio para ouvir os jogos. A tevê ligada e a voz dele lá, zunindo o lance e soltando a voz. O rádio está sempre um cadinho na frente do lance da tevê, porque o rádio está sempre na jogada, em pleno estádio. A imagem necessita de umas mágicas para virar onda e entrar em tubos, buracos, fios, parafernálias e cousas deste tipo. "Pra fooooora!". No rádio o jogo é. Na imagem, foi.
Aos trinta e pouco minutos, a voz faltou. Aos trinta e poucos minutos Silvério pediu permissão para deixar outro narrar, porque a rouquidão implacável o marcava, agonia, a voz não saía. Fiquei ali esperando ele voltar, até o final do jogo. Não voltou. Provavelmente um chá de limão, algum descanso, alguma mandinga e ele volta. Mas hoje, hoje, não voltou. Por mais que isso possa parecer bobo, diante de todo o resto, do jogo, da bola, do trem todo, me atacou as nostalgias, as lembranças, os carinhos todos. E quis muito e mais uma vez o mundo parar.
"Booooola rolando no Morumbi."
quinta-feira, 3 de julho de 2014
Amaraladas na Copa 14 - XXII
Calma com o andor que o santo é de barro. E, para variar, vamos aos fatos. A crônica de amanhã está pronta. Dupla face. Ganhando o Brasil, foi a vitória da superação, os meninos que se agigantaram, o choro maestro dos sentimentos, galhardia e opulência. Perdendo, bom, não valhem nada, time de frouxos e um rosário de infortúnios, evocando cinquenta, a tragédia, o complexo.
Mas haverá alguém a lembrar e escrever que o time "cafetero" é bom, muito bom. Joga sem muito compromisso com os fatos, só com a bola. Cuadrado é uma espécime de leveza, bailarino, ofegante inspiração. O toque de cabeça que ele deu para James Rodrigues no segundo gol contra os uruguaios foi de uma beleza monalisa, singular, mas de areia da praia, da sujeira da quadra da escola, com o gosto seco do asfalto da rua, com a imensidão dos treinos e treinos e treinos desde do infantil pé de moleque fraldinha e que tais. Notem, repetequem e considerem aquele toque sutil de cabeça como a prova definitiva da inteligência humana, da racionalidade, daquilo que nos distingue dos demais viventes: a possibilidade da poesia. A rima.
Haverá quem lembre de Yepes, com a idade dos anciões neste mundo que os homens ficam velhos antes dos quarenta, segurança, brigando, lutando, acompanhando atacantes que nasceram depois que ele já sabia ler, escrever, rimar e treinava em alguma rua de Cali. Haverá quem se recorde da simplicidade, da calma, da elegância de José Pekerman, o argentino treinador colombiano, duas nações que também amam esse trenzinho brincado com os pés.
Se a Colômbia perder amanhã - e acho provável, porque camisas jogam sozinhas, porque temos Paulinhos da VIola e alguma fonte de água pura que nos tira amarguras, bem nessas horas de exaspero - haverá um Amaral nascido em Bogotá que chorará, que lembrará de Paolo Rossi, de Zoff, de Scirea e do puto do Gentile que fez aquele penal no Zico que o maldito do juiz não marcou e da cabeçada de Oscar, no último minuto, o gigante Oscar, o melhor zagueiro da copa, para todo sempre. E escreverá nostalgias, sem saber que a poesia daquilo tudo é o que realmente importa quando vestir terno e conta pra pagar.
Espero que a crônica de amanhã não seja tão óbvia quanto às descritas no primeiro parágrafo. Ganhando, que busquemos algo além das obviedades da superação e reconheçamos que minimamente aqueles ali merecem estar ali, jogam por nós e por eles, com nossos erros monumentais mas não só. Mas, perdendo, que reconheçamos, de uma vez por todas, que há Cuadrados em outros lugares, mágicos como nosotros. Nada é mais parecido com o Brasil do que a Colômbia, nada.
Dá uma olhada no espelho e confere. Um café, por favor.
segunda-feira, 30 de junho de 2014
Amaraladas na Copa 14 - Dez Mais Oito
"Tia....". Tia, não. Professora.
Nessas minhas manias de reduzir as cousas numa linguagem que eu possa entender, gosto de imaginar as Copas como um imenso interclasses, aqueles nossos campeonatos da escola, na época do ginásio.
Quem nunca entrou numa quadra, porque os campeonatos interclasses costumam ser de salão, num torneio que reunia da quinta à oitava, quando os pequeninos, recém saídos do primário, nem beijo selinho ainda, eram obrigados a enfrentar por essas tabelas desalmadas, aquele time da oitava séria, todo mundo no fatorial, barba, gazeta, fura olho?
O time da quinta era até muito bom. Pelota de pé em pé, saída de bola bem feita, cada um marca um, pivô e eteceteras e tals. Goleava impiedosamente naqueles recreios com futebol qualquer time e até faziam chacotas quando colocavam na roda os demais. Era impossível não pensar que seria sempre assim e ter esperanças. O time é bom.
Aí chega o campeonato. O interclasses. Onde moram perigos. Onde há torcida. Há beijos de recompensa. Há craques, prêmios, olhares de inveja e cobiça. Bola rolando e...
O fato é que o timaço da quinta série ganha uma, dá show e todos comentam que os meninos são colossais. Vão vencer qualquer obstáculo. Até que naquela partida decisiva, intervalo entre aulas, todo o colégio assistindo a peleja, um a zero, o time da oitava empata. No finzinho. Depois do grandalhão ter dado uma cusparada feia no chão, depois de uma dividida mais ranheta, depois de uma discussãozinha com o professor que é o juiz, porque não marcou falta naquela jogada ali. E antes do sineta, óbvio, o gol evidente do time mais experiente. Feito com calma, quando tudo já era coração. E foi daquele menino lá, justo aquele que eu queria ser, justo aquele lá que já ia receber o melhor dos beijos...
México, Chile e Colômbia devem saber na alma o que é este sentimento. Brasil, Alemanha, Argentina, Itália também sabem que podem resolver situações improváveis antes da sineta. As vezes não funciona, é verdade, mas é muito raro não funcionar para todos os times da oitava série concomitantemente. Eles parecem, inclusive, combinar entre eles quem vai ser o responsável por extirpar o coração do romântico do momento, furará os olhos como já furaram uma Dinamarca, uma Hungria, uma Suécia, um Chile, um México... uma Colômbia.
Mas e a Espanha? Bom, a Espanha é aquele time de sexta ou sétima série, que vez por outra belisca o caneco porque os times da oitava se mataram entre si. Mas depois, no outro campeonato, ficam lá na ansiedade entre o pega-pega, esconde-esconde e o gato mia...
E... acabou de sair um gol da França. Numa pipocada do goleirão.
"Tia........".
Nota do Feiceditor: Sabemos que por força da LDB o ensino fundamental vai hoje até o nono ano. Que antiga quinta é sexta, a antiga oitava é nona. Mas a memória é minha então mantenho no ferro velho.
sábado, 28 de junho de 2014
Amaraladas na Copa 14 - Quinzão
Há certas cousas no mundo que deveriam ser tratadas com muito mais seriedade. Sim, digo dos programas de solidariedade internacional e das redes de proteção internacionais tentando mitigar o sofrimento de muitos, refugiados, expatriados, perseguidos. O combate intransigente contra a intolerância: de gêneros, de religiões, culturais, étnicos. E deveríamos cuidar mais, dentro desta lógica, de nossas identidades culturais, de nossas construções históricas - não só as construções com pedras, cimentos, argamassas, compasso, tijolo, cálculo, engenharia e tais - mas todas as construções que são fruto de nossa história: o samba, a valsa, o amor, a serpentina, a bola... o futebol.
Eu não entendo porque não é a ONU que organiza o futebol pelo mundo. Simplesmente não entendo. A ONU não é lá essas cousas, a gente sabe, tem muito mesmo o que melhorar, aprimorar, ser. Mas é uma construção importante, ao menos um indicador de que outro tipo de mundo seria possível, que outros mecanismos para resoluções de conflitos seriam necessárias, que não precisamos mais só de guerras. A ONU é um sonho. Mas é.
A FIFA é um balcão de negócio, principalmente depois que Havelange, aquele um que deveria ser esquecido pelo tempo e destinado ao ostracismo que nem o inferno é, é só esquecimento. Um pulha, com todo o perdão aos mais sensíveis e à família do cara. A federação deixou de ser o que Jules Rimet pensou um dia para ser só mais uma dessas multinacionais globais, cuja a pátria é só o crédito na conta de acionistas ou fedores assim. E o pior, a casa de tolerância monetária "organiza" uma daquelas paixões mortais que nos identificam como seres humanos - e, portanto, nos aproxima do sobrenatural, das deusas e deuses. Organiza e monopoliza um bem cultural da humanidade. E isso é lamentável, como processo histórico, político, econômico e cultural.
O futebol parou guerras e foi fundamento para outras. Mas não estamos falando só de um esporte que alimenta paixões. Estamos falando de nós. Estamos num Celtic versus Rangers. Estamos criando. Desde as regras simples do jogo, passando pelas inúmeras possibilidades que um time de onze jogadores, mais onze reservas, podem criar. Não é só para brutamontes, como vários outros desportos que necessitam da força física e do sobrepujar quase a morte o outro. Não é só talento e habilidade com os pés, senão não teríamos esta profusão de heróis cabeças de bagre, mas raçudos, onipresentes, volantes que desarmam e avantes que marcam com canelas, bicos de pé, púbis ou sei lá mais. Estamos a conversar e a construir, epopéias, vexames, desgraças, vitórias, derrotas, frangos, aritméticas, geometrias, sambas, livros, filmes, criação!!!!
A primeira fase da Copa no Brasil revelou muito disso. Que apesar dos fuínhas da federação, com suas echarpes no calor, com seu cheiro de colônia vencida, com seus arrotos, apesar dos cartões de crédito, dos bancos, das empresas de televisão, flui algo outro, que nos encanta. As histórias e as narrativas da copa de verdade, nas ruas, nos países, nos povos, no campo é fantástica. Sugiro aos mais incautos que persigam estas crônicas e relatos na copa em sítios como o Impedimento ou o Trivela. A história do garoto escocês que adora o atacante grego Samaras e o comovente depoimento do jogador sobre esta amizade. A façanha de Mondragon, o arqueiro cafetero que acaba de se tornar o jogador mais velho a atuar em um mundial, em três, na verdade. Drogba, que parou uma guerra em seu país. Eto se comparando a Obina e depois abraçando um moleque brasuca só pelo abraço. Das ruas de São Paulo, a cidade mais mau humorada do planeta as vésperas do mundial tomadas por uma intensa felicidade que se explica só e só pela bola, a esfera, a redonda, a menina, o balão. Do Maracanã, que vilipendiado, renasce num grito latino de chilenos,argentinos, uruguaios, colombianos e equatorianos. Do navio repleto de mexicanos. Das histórias de We Are The Bangladeshi Fans of Brazilian Football team, um país que não está na copa mas se reúne para falar, discutir, apreciar e se deixar encantar.
Do desespero dos conservadores americanos, porque lá nos States é o futebol que começa a despertar a multidão. Imaginem, no centro desta cultura mercantil, da vitória dos mais fortes, começarmos a apreciar o futebol como arte, como manifestação, como brinquedo e entenderemos as razões profundas deste temor. O futebol é outra cousa. E por isso mesmo não poderia ser tratado como simples mercadoria de gôndola.
Oxalá entendamos esta beleza e suas possibilidades, de fato infinitas... Merecemos. E muito.
A Fifa? Que vá a merda. Que é o seu lugar.
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quinta-feira, 26 de junho de 2014
Amaraladas na Copa 14 - XIII
A primeira vez, sempre existem estas labaredas, foi num desses restaurantes de deixar todo o ordenado do mês. Acompanhava os quitutes que acompanhavam o café. Exótica. Uma fruta amarela, envolta numa casca seca. Um gosto gostoso como deve ser, daqueles que lembram pecados, pequenos amores. Ácida. Sabor.
"O que é esta fruta?". O garçom, solícito, mandou: "É uchuva. E é da Colômbia." Uchuva. Um nome bem diferentão e da Colômbia. Meu paladar afeto a histórias, cantigas, poemas e estranhezas adorou.
Depois de um tempo a frutinha tornou-se figurinha carimbada nos sacolões de classe média - essas feiras em locais fechados, no meio do caminho entre o mercado e a feira de rua, pequenos paraísos que nos fazem sorrir a alma e chorar bolsos. Mas aqui nesta nossa luta de classes, a espremida classe média, sofrida, aperreada, não gosta de sacolões e nem de uchuvas, são nomes que não condizem com nossas aspirações primeiromundistas, nosso complexozão de vira-lata de "europeu" nascido nos trópicos -todos temos sangue colonizador, ora pá - então inventamos os sensacionais "hortifrutis" e "physalis" para denominar sacolão e a pequena fruta. Assim, com ipsilone mesmo, que nós gostamos da letrinha com som de "i". Tá bem certo que o tal sacolão é basicamente um vendedor de hortaliças e frutas e que o nomezinho científico da uchuva é "physalis" mesmo. Mas isso tudo misturado e junto confessa muito de nossa amada raíz, dos patrícios e patriarcas - e matriarcas também, que gênero aqui ainda é um problemão sério que ninguém quer discutir - que habitam e nasceram e nascem na terra piratininga.
São Paulo é o máximo. A cidade pulsa, tem vida, coração, alma, noite, calor, frio. Uma mistureba dantesca. Tudo tem aqui. E há sim uma classe média espraiada pelos cantos e pelo centro da cidade. Sou um desses, desde sempre. Mas acho inevitável olhar para meu umbigo e dar risada, tentar aprender um pouco e sair da caixinha cômoda que o berço me deu, feliz. Vou no hortifruti e a caipirinha de physalis do Veloso, boteco que fica ali nas divagações da entre a estação Ana Rosa e a da Vila Mariana do metrô, pertim da caixa dágua da Sabesp, é de tomar de joelhos, rezando. Mas gosto muito de tratar a uchuva por uchuva, o sacolão por sacolão. Sou assim.
E escrevo todo este tratado para dizer que a Colômbia de Valderrama está prestes a um feito muito mais histórico nesta copa. Com o futebol mais alegre dos sudamericanos até aqui na copa, jogando com a leveza de James Rodrigues, está a um passo de nos empurrar uchuvas, para que não neguemos nunca mais que nossa cor também é preta, que fomos explorados pelo café, pelo ouro, pelo sangue, que mataram e escravizaram nossos índios, que matam e escravizam, que mataram e escravizaram nossos negros, que matam e escravizam, que se alimentam como abutres de nossa fé e tudo mais. Que o que nos une é o lamento e o sofrimento, mas a esperança e o caldo saborosíssimo da mistura. Que nossos complexos de vira-latas são parecidos - só um complexo do tamanho dos Andes explica Uribe.
A Colômbia seguir no mundial, firme assim, bela assim, cantando assim, é a vitória dos nossos avessos. É a curimba que falta.
segunda-feira, 16 de junho de 2014
Amaraladas na Copa 14 - Quinto
Fui ver um dos jogos no Anhangabaú. Lá montaram os "patrocinadores" e a organizadora do evento um local com telão para assistir aos jogos. Paulistas somos inacreditavelmente jecas para muitas cousas. Como não temos praia, costumamos nos lambuzar nas farofas, com gosto. Até as narinas mais empinadas da gente bandeirante piratininga chegam na praia e pronto: mafuá, farofa milanesa na areia e queimadura. Nem adianta dizer que não. Quem nega, no mínimo é cafona. Bom... nós paulistas somos cafonas. Mas voltando à marola, como não somos uma cidade linda por natureza, nossos encantos são outros. E para desvelo é necessário um algo mais, um outro olhar que guais de turismo e de beleza não dão. E por estas e outras estamos inacreditavelmente desacostumados aos gringos turistas.
Chega a ser patético. Porque uma cidade pseudo cosmopolita, repleta de gente do mundo todo que mora aqui, quando vê um que não mora, só tá de visita, ficamos todos animados, como que vendo entidades sobrenaturais. Jecas. No estilo do Monteirão, um clássico do tatu.
E na tal tenda para os jogos o que mais tem é gringo. Contei sotaques. Contei dezenas, repito, dezenas, de camisas de países diferentes. Fiquei bestificado com tudo. Parecia criança em loja de brinquedo. Quando uns caras, um deles com a camisa da Argélia e outro da França, começaram a azucrinar um grandalhão coreano, com uma linda jaqueta do time da Coréia do Sul, gritando "Argélia", comecei a rir feito besta: Coréia e Argélia é um dos clássicos do grupo H.. Pinto no lixo, eu.
E tinha um francês ao meu lado. Puxei papo. O cara veio da França para assistir ao jogo do Uruguay com a Inglaterra, em Itaquera. Um único jogo. E nem era do país dele. Estava todo feliz tirando foto de tudo e comemorou o primeiro gol francês com uma felicidade de primeira mordida em quindim. Bonito que só. Falamos da copa e ele, em inglês tão ruim quanto o meu, me disse algo como "vim para me divertir".
São Paulo tem muito africano. Quem anda pelo centro, sabe, reconhece. Mas é difícil conversar com eles num dia normal. Porque no corre corre dos dias somos todos meio bestas, mais relógios que relíquias. Mas lá na tenda, ar aberto, era fácil. Um "oi", um sorriso, uma comemoração de gol. E eles sorriem bonito, né? Quem nunca ficou feliz com um sorriso deles, desses lindos, sabe pouco dos encantos do mundo, pouquíssimo. Só refrigerante, provavelmente.
E os latinos americanos!!! Senhoures e senhouras, a quantidade de camisas vermelhas do Chile é de impressionar qualquer marujo. E amarelas de colombianos, sombreiros mexicanos e o azul dos hermanos. E os felizes costa riquenhos, garbos com sua bandeira.
Um clima amistoso que estamos pouco acostumados, gente sentada no chão sem toalhinha para as bundas, felizes, conversando. Apesar das caras sempre carrancudas dos policiais - e me pergunto a razão do porquê a policia do estado estar num evento que a organizadora diz ser dela - com exclusividade pérfida de um amante ciumento e inseguro - e, portanto, um evento privado.
Vão acabar comendo a gente, se tivermos sorte.
quarta-feira, 18 de dezembro de 2013
Se foi só isso... tá bom...
Estou
aqui. Quarto de hotel. Olhando a espátula do ventilador. E aquele
barulhinho.... trac...trac...traaaac....trac....traaaac... turk. E de
novo. Não sei como vou sair daqui, confesso. Tudo o que eu comi de
torresmo, tudo o que eu tomei de Salinas e afins, tudo o que eu
gritei, dancei, pulei. Sim, até sambei ao fim da noite quebrando
pratos. Pratos...
No
canto, nestas cômodas que tem bíblia, jaz um copo de sal de fruta.
Quando o resto do pó fica ali a te denunciar. A golpear com lâminas
de retrogosto. Só sei que quando percebi encontrei o tíquete do
bolso, o tíquete do jogo. Tinha ido a Beagá para Grécia e
Colômbia. Tinha ido, a bem da verdade, rememorar idas e vindas.
Tinha ido ao torresmo, santo. Confesso outra cousa: assim como Gil e
Dominguinhos, não sei amar sem torresmo. E quando esses exageros se
misturam, ainda mais numa copa do mundo, há que dar relevo ao óbvio:
algo sairá em ressaca. E cerveja gelada...
Quase
perco a hora. Também, que raios duplos fazem alguém imaginar um jogo as treze horas, treze horas... E estava eu numa conversa boa, de bar, que fui ficando, ficando, ficando. Mas,
repentinamente, sei lá como, Mineirão. Estava lá. Lotado.
O de sempre: Vaias
para todas as autoridades presentes. E uns gritos mais pesados aqui e
ali contra um outro que aparecia no telão. Mas o estádio foi
literalmente sacudido – e, sim, o bom Mineirão voltou a tremer
como nas tardes de Reinaldo ou de Nelinho – quando a cabeleira
santa de Valderrama surgiu nas telas. Valderrama descobriu que sua
popularidade por aqui é capaz de muito. Do melhor sítio da internet
sobre futebol, “Impedimento”, que tem ele estampado nas logos. E
de centenas de camisetas espalhadas pelo estádio. Alias, do lado de
fora, camelôs vendiam a camiseta por módicos reais. E os mineiros,
daquele jeito deles, souberam fazer o espetáculo: do lado de fora,
derrotada a Fifa, as lanchonetes de comida rápida, os refrigerantes, os patrocinadores, o diabo a
quatro. E dentro do Mineirão.... um trem doido.
A
torcida colombiana era maior e mais ruidosa. Poucas bandeiras da Grécia.
Evidências geográficas e econômicas. E a Colômbia tinha Falcão
Garcia, candidato a craque da copa. E ele foi logo dando as
credenciais: Bola na área e num sem pulo de cinemascope um petardo
varava a cidadela grega. Um a zero. Não deu tempo para nada, um golpe no fígado.
Mas a
retranca grega era digna. E o tik-tak dos colombianos... daquela
beleza que não leva a nada... enjôo. Sono. Toque daqui, toque dali.
Samaras, empate. Sempre ele, numa bola que sobrou de um chutão da
defesa. Falcão, outro golaço. Desta feita, senhoures e senhouras, o
cidadão conseguiu desvencilhar-se de Sócrates, Platão e todos os
filósofos juntos, com um toque de letra. No ângulo. Fim do primeiro
tempo e o gol espetacular deixou todos de queixo. Caídos.
Volta o
segundo tempo e aquele filme de sessão da tarde, repetido, mas em
castelhano ou portunhol brabo. E Jackson Martinez, do Porto, acabou fazendo um gol
espírita, marcando o três a um, quando a retranca grega dava sinais
de cansaço. A impressão é a de que os colombianos vão passar de
fase. Sem muitos sustos. Muito embora, no finalzinho da peleja, o
espanto: a Grécia faria o segundo gol, de penalti. E o jogador
grego, na comemoração, fingiu quebrar uns pratos na cabeça do
treinador português. Foi a senha para o estádio virar uma cantoria louca...
Andam a
dizer que o tal jogador pode até ser penalizado pela Fifa. Porque a
comemoração desencadeou uma algazarra de proporções colossais...
pratos...trac...trac...traaaac....trac....traaaac... turk....
Colômbia 3 x 2 Grécia (Falcão Garcia - 2, Jackson. Samaras e Karaugonis)
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