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quarta-feira, 11 de julho de 2018

Yuri Gagarin


Acho que foi na TV Cultura de São Paulo - que saudades da TV Cultura... - que acompanhei aos jogos das copas de 70, 74 e 78. Sim, eu nasci em 72, mas o videoteipe é um pouco mais antigo. Eram os jogos transmitidos na íntegra, um pouco antes da hora do macarrão de domingo. Aquele time de 70 era fabuloso, mesmo. Não é lenda, história da carochinha. O homem pisou na lua e a terra, de fato, é redonda.

Clodoaldo, Gérson, Pelé, Tostão, Rivelino e Jairzinho formam uma espécie de absurdo. Os lançamentos, a precisão, a recomposição de jogo e os chutes de Gérson, e se tivesse um prêmio de bola de ouro ou qualquer coisa do gênero na época tenho convicção leonina de que Gérson seria o super trunfo daquela copa, são espécimes de elementais, para quem gosta de estudar o divino no futebol. E Pelé, bom, é Pelé. 

Mas mesmo este timaço, que ganhou todos os seus jogos, não pode ter uma narração absolutamente retilínea, do campo ao caneco. No jogo contra os ingleses, talvez contra o melhor time inglês de todos os tempos, suamos sangue, numa batalha feroz. Banks, o arqueiro inglês, defendeu um testaço de Pelé que faz parte da galeria de imagens para mostrar para extraterrestres para provar as capacidades do engenho humano. Tostão faz um balé na defesa dos saxões antes de achar Pelé no meio da área que merecia feriado, no lance do gol de Jairzinho. E tem a história, pouco contada por aqui, do intervalo, que entre um tempo e outro, num calor de rachar mamona, o time brasileiro esticou sua presença no vestiário até o limite antes de punições, deixando Bobby Moore e companhia debaixo dum sol de escalda pés. Os ingleses choram pelo fair play que não tivemos em todos os documentários até hoje.

Nas semifinais, viramos um jogo contra os uruguaios, o primeiro e último jogo em copa entre as duas seleções depois do Maracanazzo, com direito a uma cotovelada de Pelé, um revide, mas uma cotovelada, que fosse o mundo de hoje com VAR teríamos problemas. Ou não, porque se tivesse VAR não teria a cotovelada, num dilema tostines para discutir em boteco.


E, no jogo final, contra a Itália, pegamos um adversário totalmente destruído por uma semifinal de cinema, que italianos e alemães fizeram dias antes da finalíssima. Quem gosta de futebol tem que assistir aos jogos da copa de 70, mas se tiver que escolher algum jogo que não os do Brasil teria que ser aquela semifinal, num jogo que teve uma prorrogação absolutamente doida, magistral, colossal: jogo normal, 1x1. Prorrogação, Alemanha 2x1. Empate. Virada italiana. Empate. E quando caminhava-se para o fim do mundo, Itália 4x3. Com Beckenbauer jogando toda a prorrogação com uma tala no braço, depois de ter machucado a clavícula! A semifinal exauriu a Itália. Que, provavelmente, não ganharia o jogo final mesmo descansada. Mas não tomaria de quatro, desconfio.

Escrevo estas linhas para desenvolver a tese da semifinal renhida. O time que faz a partida mais dura nas semifinais acaba se desgastando fisicamente, embolando nervos, desgastando-se e, invariavelmente, perde a finalíssima. Lembremos de 82, do jogo entre alemães e franceses em Sevilla, na seminal. Um confronto épico, um 3x3, em partidas lendárias de Rumenigue, pelo lado alemão, e Tresor, pelo lado francês. A Alemanha ganhou nos penais e depois seria derrotada pelos italianos. Lembremos de 98, na semifinal entre Brasil e Holanda, uma partidaça que também foi aos penais fatais, com Taffarel sendo nome de santo. 98, Zidanaço. Na final, França 3x0.

As semifinais são espeto. Os jogos costumam ser feios, burocráticos, cheios de medo, como o Brasil e Suécia de 94 ou o Brasil e Turquia de 2002. Jogos estudados. Quando se tem grandes jogos, não necessariamente pela técnica, a semifinal costuma machucar o vencedor além da conta, tirando o enganche para a partida final...

Nesta copa, ao que tudo indica, é melhor a França colocar as barbas e os moustaches de molho.... Apesar da prorrogação, a Croácia fez a partida onde a diferença técnica entre um time e o outro foi mais evidente desta fase final. Sobrou, num jogo de semifinal. Sim, enfrentou prorrogações, contra dinamarqueses e russos, times que não propunham nada mais do que o empate, mas sobrou nos jogos onde o outro time supostamente se propôs a jogar para vencer. Foi assim com argentinos e foi assim hoje. O jogo croata encaixa nesses jogos. O desgaste físico, evidente. 

Mas, do outro lado, um time que teve que enfrentar argentinos e uruguaios, equipes que tem grau de dedicação ao jogo sanguínea, e os belgas, talvez os de melhor repertório técnico do mundial, não pode se considerar plenamente descansada. E há um certo elixir que sempre surge nesses momentos, que entorpece a razão e infla o salto.


11 de julho, 2018. Croácia e Inglaterra.



  

quinta-feira, 5 de julho de 2018

"Coluna do Meio"


Os especialistas estão todos absolutamente convencidos de que o campeão da copa da Rússia sairá do lado dos confrontos que tem França, Uruguai, Brasil e Bélgica. Os outros quatro, Suécia, Inglaterra, Rússia e Croácia são tratados como zebras, zebraças, zebrões. Há até algum desprezo, de canto de boca, quando falam de suecos e russos. Não deviam, acho eu, sonso que sou.

Há o imponderável no futebol e, só por esta frase quase lugar comum, devemos sempre e sempre amar e respeitar as zebras. Há poucas possibilidades em outros esportes, na vida, em tudo, de uma equipa mais fraca, menos cotada, ganhar uma peleja. A metáfora do Davi contra Golias funcionou bem mais no futebol do que em outras artes do inconsciente, incluindo as religiões. Todo mundo sabe, reconhece, recita ao menos uma zebraça. Incluindo canecos.

Mas se não fosse por admiração e carinho pelos resultados arruinadores de bolão, Suécia e Croácia deveriam ser tratadas com um pouquinho menos de desconfiança por razões históricas. Os suecos já foram vice campeões mundiais uma vez, em 1958, jogando em casa. Mas a primeira vez que os suecos disputaram uma copa, em 38, foram para as semifinais. E perderam para o Brasil de Leônidas da Silva a decisão do terceiro e quarto lugares. Em 50, no Brasil, ficaram na terceira colocação, atrás de Brasil e Uruguai. Em 70, foi desclassificada por ter pior saldo que o Uruguai, no grupo que ainda tinha a Itália. Itália que seria a vice campeã e Uruguai que disputaria a semifinal com o Brasil. E em 94, os suecos foram novamente para as semifinais, perderam outra vez para o Brasil, um gol de Romário quando todos já se preparavam para a prorrogação. Assim, os suecos não são novidade em fases final de copa. Há um filme maravilhoso, "Minha vida de cachorro", que, além de muitas cousas, retrata a paixão sueca pelo futebol. A Suécia tem um histórico em copas muito mais importante que a Inglaterra, que, sim, já foi uma vez campeã do mundo, ganha em casa e no apito, e só disputou mais uma semifinal. Duvido todos os meus botões que a Suécia perca da Inglaterra nestas quartas de final...

E a Croácia fez parte da Iugoslávia. Os iugoslavos estiveram duas vezes nas fases de semifinal nas copas, em 30 e 62, e a Croácia já chegou numa semifinal, em 98, sendo eliminada pela França que seria a campeã, de triste recordação para os brasileiros. E, não é insensato supor que as divisões que dilaceram a Iugoslávia, numa das guerras mais insensatas e violentas, eram fatores que desestabilizavam os iugoslavos, impedindo bons times de irem adiante em competições pelo mundo.

Gostamos de traçar medidas, índices, probabilidades e gastarmos nosso latim com observações sobre os mais fortes, os mais aptos, os mais preparados. Desconfio que esquecemos de fatores outros, destas pequenas esperanças que nascem de vidas imateriais pretéritas, de pequenas conquistas, de périplos anteriores. Muitos acreditam firmemente que um jogo de futebol se resolve naquele retângulo, com os vinte e dois em campo, mais os que entrarem substituindo titulares. Que uma partida de futebol começa e termina com o trinar de um apito... 


A ilusão da objetividade é uma bola quadrada. E caceta, a Colômbia tinha que ter matado o jogo no primeiro tempo da prorrogação contra os ingleses. James Rodrigues seria o melhor em campo no jogo contra os suecos, não tenho a menor sombra de dúvida. 


03 de julho, 2018. Inglaterra e Colômbia. Suécia e Suíça.



     


sexta-feira, 29 de junho de 2018

Trave de chinelas


Lá pelos idos de não sei quanto, o critério de desempate para os jogos do Torneio Início - um campeonato festivo que marcava o início do campeonato paulista, com jogos de meia hora, num único dia, uma verdadeira macarronada de domingo, em partidas eliminatórias do tipo perdeu tá fora - eram os números de escanteio. O argumento era que o escanteio comprovava que o time estava jogando no ataque, procurando gol, então, no desempate, escanteio era gol.

Não sei se a regra do torneio Início era boa. Mas era oitocentas e quinze mais mais lógica e prudente que esta regra safada que a federação internacional de futebol associado tem adotado: a do "Jogo Limpo". Nas competições organizadas pela federação, premia-se quem tem menos cartões como critério de desempate. Obviamente, a regra macabra foi utilizada para definir um dos classificados o mais jururu para as oitavas de final nesta copa, na vaga disputada entre Japão e Senegal. Os japoneses ficaram com a vaga por ter tomado dois cartões amarelos a menos que os senegaleses.E o que aconteceu? Os asiáticos, sabendo do resultado da partida entre Senegal e Colômbia, mesmo perdendo o confronto com a Polônia, passaram os últimos cinco minutos num verdadeiro toco de lado recebo de volta. Uma ode ao oportunismo de quintal, aquele da grama do vizinho.

No fim, a seleção que praticou um joguinho mequetrefe de ocasião acabou se classificando na regrinha do "fair play", num contrassenso típico de fazer propaganda de refrigerante antes da matéria que alerta dos riscos da obesidade infantil. Ou, propaganda de banco e logo depois aquele analista cu de ferro vem explicar do problema da inadimplência contribuindo para os índices débeis da economia.

E é óbvio que a imprensona do mundo resolveu tacar o tacape nos japoneses, tratando a manobra do time como laranja podre, que aquele joguinho de engana nos últimos minutos foi uma manobra aviltante, mais terrível que xingar a mãe. Mas, carambolas cósmicas, porque diachos existe uma regra dessas? O amarelo, o cartão, é um sanção e se insere dentro das possibilidades da partida. O amarelo recebido numa partida duríssima, por causa de uma falta que impediu o prosseguimento da jogada, não pode se equipar com um amarelo por comemoração de gol. Aliás, amarelo em comemoração de gol é outra dessas cretinices de emoldurar. O amarelo é um sinal de alerta, uma admoestação preliminar, mas que leva em conta única e exclusivamente as condições objetivas e subjetivas, o drama e a miséria, daquela partida singular, que nunca mais se repetirá. 

Melhor o critério do escanteio. Pelo menos se premiaria quem chegou na última linha de defesa da cidadela adversária, tentando ganhar o pote de ouro do castelo. Melhor ainda era chamar japoneses e senegaleses para um encontro no ginásio coberto da escola pública mais próxima, para fazer um "vai a um", gol caixote, meio campo, seis de cada lado, sem goleiro mas com a regra de no mínimo três toques. Uma regra simplesinha, que toda criança que jogou futebol sabe identificar.

Ou, sei lá, classificar o Irã. 


28 de junho, 2018. Japão e Polônia. Colômbia e Senegal. Inglaterra e Bélgica. Panamá e Tunísia.



segunda-feira, 25 de junho de 2018

Quando o marreco sorridente também gritou gol!


Era domingo. Último dia da segunda rodada da copa. Nas duas primeiras rondas, neste formato de grupos de quatro, são muito maiores as chances do lúdico, do brincar. Depois, tudo ganha ares de seriedades excessivas, classificações, epopeias, desastres, glória, fracasso, vexame, sete a um, dinastias e bebedeiras. Mas no comecinho, não. Ali naqueles primeiros momentos temos os sonhos de um Panamá campeão do mundo, de um gol antológico, de passes com azeite, bolas com açúcares, planos, brinquedos. Com jogos todos os dias, muitos jogos, muitas bolas, muito assunto. O deleite. 

Sim, há na segunda rodada as desclassificações prematuras - ninguém deveria ser sumariamente eliminado na segunda rodada e as regras perfeitas um dia levarão isso em conta nalguma fórmula mágica. Mas, a rigor, todos tem chances. Até o time mais estrombólico, caricato ou sovina. É um grande barato, basta gostar de picolé. Eu gosto muito de acompanhar estas rodadas ouvindo jogos pelo rádio. Há uma fantasia nas narrações pelo rádio que nos transportam para mundos paralelos. Ouça o centésimo gol de Rogério num desses videozins de vocêtubo e percebam que para cada narrador, um desenho, uma mágica, um conto. Até parecidos, mas diversos. O rádio, o futebol pelo rádio, vai muito além da imagem televisionada: é a imagem imaginada.

De uns tempos para cá, com o advento dos aparelhos de telefone móveis, pequenas máquinas de computadores muito mais possantes que os PCs dos tempos remotos de colégio, há aplicativos e possibilidades de conhecer e escutar rádios de todos os lugares do mundo. Este sempre foi um sonho que acalentei, toda vez que tentava colocar as antenas dos radiotransmissores que passavam pelas minhas mãos e tinham a frequência das "ondas curtas". Com o celular, as ondas curtas funcionam mesmo. Basta um sinalzim das internetes.

Voltando ao domingão, fui ao parque com minha filha pequenina no horário do jogo do Senegal. Fui de carrinho e pude num plano infalível ouvir trechos do jogo. Um fone num ouvido e outro pronto para ela. Só quando ela quis dar milho e piruá para os patos é que deixei os fones. A menina adentrou corajosamente ao setor de patos e galinhas, galos e pintinhos do parque e eu resolvi que era melhor marcar de perto a atacante do meu próprio time, já que ornitologia é uma ciência que demanda total atenção e bicada de pássaro dói mais que chuteira de trava na canela. Bom, a menina andou para cima e para baixo, correu, correu de novo, subiu com a boneca para lá, para cá, conversou com o baile todo e, obviamente, se cansou. E pediu colo.

Lá pelas tantas ela estica as mãozinhas para os fones de ouvido. Estica, resmunga e só para quando eu entrego para ela. Automaticamente, ela coloca os fones nos ouvidos dela. Sem som, porque estavam desconectados. Reclama, aponta para o telefone, resmunga, chora. "Tá filha, vou ligar."

Antes de procurar alguma música, o celular estava conectado a uma rádio de Dakar, Senegal. Senegal e Japão faziam seu jogo na copa. Não entendia nada. Era um "Senegale hã Japonaise hã" que imaginei ser um a um o placar. O fato é que o narrador desembestou a gritar exatamente na hora que a menina recolocava os fones, desconfio que foi o segundo gol senegalês: "Futebó! Futebó, papai". E sorri gostoso.

O pai? O pai quase evapora naquele sorriso. E colocou o outro fone tentando descobrir se tinha sido mesmo gol...


24 de junho, 2018. Senegal e Japão. Inglaterra e Panamá. Colômbia e Polônia.




segunda-feira, 18 de junho de 2018

Juiz ladrão!!!!


Uma das piores invenções da humanidade é o árbitro de vídeo nas partidas de futebol. Aquele um que fica no ar condicionado, bedel de costumes e analisador de lances polêmicos, distante do calor do campo, presente no imaginário como o que vai sarar a injustiça no campo. Trata-se de grande besteira. Enorme, retumbante, fascinante.

Eu sempre escrevo que futebol são reminiscências. Muito, mas muito mesmo, do que acontece ali no campo tem pouca ou nenhuma importância. Aliás, pensando bem e que mal tem, o jogo dentro do campo inúmeras vezes é a coisa mais chata do futebol. Há uma transcendência no jogo, uma esfera confusa, contraditória, maravilhosa, dolorida, alegre, efusiva, desastrosa. O gol na data do casamento, a derrota na véspera daquela prova de química, os cantos dentro do ônibus a caminho do estádio, o sanduba de mortadela, o pernil, a namorada que foi com você no jogo. O cantar da torcida, o frio absurdo do cimento do gélido Morumbi, você e mais quinhentas testemunhas numa quarta feira de noite infame e sem condução, tendo que andar até a Rebouças para encontrar algum jeito de ir para casa. Sim, tem o campeonato, tem a briga, tem o quiprocó, tem o erro da arbitragem, tem a pantomima dum chute horroroso. Tem nó tático, tem vitória nos acréscimos, tem derrota humilhante e tem tirar pontos do campeão invicto. Tem rocambole, pipoca doce de isopor, cerveja quente. Tem Nélson Rodrigues, tem "O drible" do Sérgio Rodrigues. Tem Luis Airão, Chico Buarque, Nick Hornby e até o Iron Maiden. Tem o grupo de amigos no uátizapi. Tem o não dormir porque o time perdeu, xingando técnico, jogadores, preparador físico, diretor de futebol e o presidente da república, com azia e má digestão. 

O diabo, e o mau diabo, porque o bom gosta de sambar, é que de uns tempos para cá resolvemos emprestar ao futebol os sentidos morais de uma vida cheia de virtudes. O futebol deixando de ser válvula, arte, música, brincadeira, para ser um simulacro das boas relações sociais, quase que uma reedição dos dez mandamentos. Não roubarás, não matarás, não simulará nem penal nem cusparada. E como nas relações sociais, na vida em concreto, a gente não consegue reproduzir a totalidade dos mandamentos sem dar uma escorregada no quiabo de vez em quando, resolvemos escolher o futebol como lugar do "justo".

Não, evidentemente que não. Não é lícito, legítimo, correto, desejado, vencer uma partida com um gol ilegal. Não vale tudo. Mas a linha onde se constata a má-fé, a blasfêmia, a injúria não é tão firme e resoluta assim. Temos mania de dar como exemplo de mau caratismo o gol de mão de Maradona contra a Inglaterra. Um gol de mão, da Argentina contra a Inglaterra, cazzo! Esquecemos tudo o que ao redor daquele gol se encerra. E julgamos com nossas virtudes todas de quem nunca esquece de escovar os dentes. Mas o penalti que Nilton Santos fez contra a Espanha na copa do Chile e pulou para fora da área, para enganar o juiz, foi o que? A cotovelada de Pelé? Ou o esperar no vestiário, excedendo os quinze minutos entre um tempo e outro, deixando os ingleses debaixo de um sol asteca de mil deuses no cucuruto, na partida mais difícil de 70? A nossa dupla moral, que a gente veste conforme o calor que está lá fora: ora um terno modelinho básico de boa costura ora uma sunga de crochê.

Miranda foi empurrado pelo suíço? Aaaaaah.... por favor.... qualquer jogada de área tem destas. Tem juiz que marca, tem juiz que não marca, tem zagueiro que reclama e tem zagueiro que não dá a mínima, porque puxou o calção do centroavante no lance anterior. Aí, o vestal, lá da cabine com ar condicionado, decide chamar o juizão para lhe dar conselhos ou veredictos. Não sei, mesmo, se me convenço da utilidade disso. "Segue o jogo!".

O futebol é lugar para reminiscências, saudades, memórias, lembranças - muitas delas infantis. Mas me parece que, ao contrário de buscarmos nisso toda a beleza e a infinitude do jogo, estamos é infantilizando a disputa: não se tolera mais a frustração, não se pode deixar espaço para o dúbio, vamos aplicar um corretivo para quem fez feio, menino mau. E como crianças que precisam de distrações para não pensar e questionar a merda de escola que lhes é oferecida nós deixamos que todo o debate sobre o jogo fique nisso de juiz ladrão, gastamos horas e horas nisso, fazemos discurso, fincamos o pé, birra e mais birra. Estamos todos impedidos.  



18 de junho, 2018. Suécia e Coréia do Sul. Inglaterra e Tunísia. Bélgica e Panamá.



Para quem não conhece, ou para quem quer se lembrar, uma cena antológica do filme "Boleiros" do Ugo Giorgetti, com o magnífico Otávio Augusto:

https://www.youtube.com/watch?v=E2Q2icAoKrQ



segunda-feira, 23 de junho de 2014

Amaraladas na Copa 14 - VIII


Era um boteco, de esquina. Calçadas na mesa. Já era noite, depois das dez. Uma gritaria dentro do bar dava a senha: era futebol. Não era... estranhamente era um jogo de basquetebol, final de turno do campeonato local, entre duas equipas da região metropolitana de Montevidéu, na República Oriental do Uruguay.


Evidentemente, paramos no boteco. E esperamos o final da partida. Os orientales estavam vidrados. Torciam. O que mais encantava era aquilo: uma partida renhida de basquetebol, num dia de semana a noite. A descoberta como de uma senha para entender um pouco a alma daqueles vizinhos: há emoção e dor, eles estão ali. Parecem gostar daquele sofrimento infindo, dos sentimentos impossíveis, das grandes vitórias. Por lá é comum contarem com grande admiração a história da independência, com poucos e bons "33 orientales" que foram decisivos para a luta da independência contra o império brasileiro. Trinta e três contra um império. Assim é o Uruguay, assim é a alma, uma partida renhida, difícil, improvável.



Por isso, imagino cá com meus botões, que a façanha uruguaia contra os ingleses na semana passada e a derrota na estreia para Costa Rica tem explicação muito mais espiritual, um estudo d´alma clássico, do que na fria lógica dos números e das condições objetivas. A derrota para Costa Rica era evidente, estava escrita há milhares de anos, desde que índios habitavam a região do Rio da Prata. Os índios morreram todos, todos, sem exceções, tragicamente, na única luta em que perderam para os colonizadores. Mas Costa Rica é uma igual, na fé, na história de exploração pelo colonialismo. Já os ingleses... favoritos, time que tinha feito até um bom jogo embora tivesse perdido dos italianos, são exatamente o que estimulam as contendas da Celeste Olímpica. A tradição, aqui, não é ganhar ou perder. É lutar. E por isso Luisito e Cavani estão lá na lista dos melhores do certame, finda a segunda rodada da fase de classificação.



Montevidéu é uma cidade diferente no tempo. Por lá, apesar das modernidades de algumas áreas da cidade, ainda há tempo para se andar na beira do mar - que é um rio. Para se tomar chimarrão contemplando o oceano, que é de água doce ou quase isso. Onde andam carros que datam do século passado em número muito mais expressivo do que carrões novos. Onde na hora do almoço operários jogam futebol. Em que ainda se pára para ver uma partida de basquetebol, pelo simples prazer da peleia.



Há uma feira na rua Tristan Navarra, em Montevidéu. Uma feira literalmente livre: livros, roupas, verduras, queijos, antiguidades, frutas, discos, quinquilharias, miudezas, gente cantando, panfletos políticos e literários, esquinas. Dos lugares mais encantadores da capital oriental. Nas várias banquinhas de roupa há quase sempre uma camisa do Nacional ou do Peñarol. Mas há sempre e sempre uma camisa azul, celeste, olímpica.




Pode ser que voltem para casa já na primeira fase. Mas a vitória contra o Inglaterra, a seleção do país que hospeda a tal premier league, e a derrota contra os costa-riquenhos, já contam muito sobre a alma desses nossos vizinhos. E o fato da tetra campeã Itália jogar pelo empate diz muito sobre o que será o próximo jogo...


segunda-feira, 16 de junho de 2014

Amaraladas na Copa 14 - Quinto



Fui ver um dos jogos no Anhangabaú. Lá montaram os "patrocinadores" e a organizadora do evento um local com telão para assistir aos jogos. Paulistas somos inacreditavelmente jecas para muitas cousas. Como não temos praia, costumamos nos lambuzar nas farofas, com gosto. Até as narinas mais empinadas da gente bandeirante piratininga chegam na praia e pronto: mafuá, farofa milanesa na areia e queimadura. Nem adianta dizer que não. Quem nega, no mínimo é cafona. Bom... nós paulistas somos cafonas. Mas voltando à marola, como não somos uma cidade linda por natureza, nossos encantos são outros. E para desvelo é necessário um algo mais, um outro olhar que guais de turismo e de beleza não dão. E por estas e outras estamos inacreditavelmente desacostumados aos gringos turistas.

Chega a ser patético. Porque uma cidade pseudo cosmopolita, repleta de gente do mundo todo que mora aqui, quando vê um que não mora, só tá de visita, ficamos todos animados, como que vendo entidades sobrenaturais. Jecas. No estilo do Monteirão, um clássico do tatu.

E na tal tenda para os jogos o que mais tem é gringo. Contei sotaques. Contei dezenas, repito, dezenas, de camisas de países diferentes. Fiquei bestificado com tudo. Parecia criança em loja de brinquedo. Quando uns caras, um deles com a camisa da Argélia e outro da França, começaram a azucrinar um grandalhão coreano, com uma linda jaqueta do time da Coréia do Sul, gritando "Argélia", comecei a rir feito besta: Coréia e Argélia é um dos clássicos do grupo H.. Pinto no lixo, eu.

E tinha um francês ao meu lado. Puxei papo. O cara veio da França para assistir ao jogo do Uruguay com a Inglaterra, em Itaquera. Um único jogo. E nem era do país dele. Estava todo feliz tirando foto de tudo e comemorou o primeiro gol francês com uma felicidade de primeira mordida em quindim. Bonito que só. Falamos da copa e ele, em inglês tão ruim quanto o meu, me disse algo como "vim para me divertir".

São Paulo tem muito africano. Quem anda pelo centro, sabe, reconhece. Mas é difícil conversar com eles num dia normal. Porque no corre corre dos dias somos todos meio bestas, mais relógios que relíquias. Mas lá na tenda, ar aberto, era fácil. Um "oi", um sorriso, uma comemoração de gol. E eles sorriem bonito, né? Quem nunca ficou feliz com um sorriso deles, desses lindos, sabe pouco dos encantos do mundo, pouquíssimo. Só refrigerante, provavelmente.

E os latinos americanos!!! Senhoures e senhouras, a quantidade de camisas vermelhas do Chile é de impressionar qualquer marujo. E amarelas de colombianos, sombreiros mexicanos e o azul dos hermanos. E os felizes costa riquenhos, garbos com sua bandeira.

Um clima amistoso que estamos pouco acostumados, gente sentada no chão sem toalhinha para as bundas, felizes, conversando. Apesar das caras sempre carrancudas dos policiais - e me pergunto a razão do porquê a policia do estado estar num evento que a organizadora diz ser dela - com exclusividade pérfida de um amante ciumento e inseguro - e, portanto, um evento privado.

Apesar dumas catracas e de umas revistas em mochilas e roupas, o local estava aberto. E os bêbados do centro também estavam lá. E não só os bêbados: as putas do entorno da praça do Correio, os mendigos das escadarias da Líbero, gente diferenciada. Há algo ali no Anhangabaú, antes de sermos essa gente jeca e malcriada, quando era rio e vale e gente pelada, que tatuou a cidade. Nem a tal organizadora foi capaz de tirar isso de lá. É provável que até o fim da copa tentem expulsar essa gente feia dali. Mas muito provavelmente não conseguirão... Desta vez há um ancestral nosso que continua a achar José de Anchieta um grandessíssimo dum explorador mequetrefe, que de santo não tinha nem as batas... mas que acha graça num festerê. 

Vão acabar comendo a gente, se tivermos sorte.


sexta-feira, 7 de março de 2014

Os contrarrevolucionários


Quem ama futebol assiste a centenas de jogos por ano procurando um chapéu no zagueiro, seguido de um chute certeiro no meio do gol, como aquele na final da Copa de 58. Ou uma corrida desenfreada rumo à área adversária em que volantes, beques e laterais vão sucumbindo, um a um até o próprio goleiro cair no chão e ver a bola entrar, como aconteceu na Copa de 86. Ou tentam encontrar o time do século em meio a camisas laranjas na década de 70 e amarelas em 82. Alemães e italianos podem ir para tantas finais e ficar com quantos títulos conseguirem, mas os protagonistas daquela Copa das Copas foram o meio-campo de Cerezzo, Falcão, Zico e Sócrates. Afinal, foram eles que mostraram uma nova visão de mundo a partir do futebol. Um mundo em que a criatividade é a regra e cada jogador é um universo de infinitas possibilidades. Laterais podem ser atacantes e também zagueiros. Zagueiros podem ser pontas e armadores. Armadores também podem ser volantes e centro-avantes. E atacantes podem ser meias e laterais. O meio-campo se dissipa, adquire várias formas. Ora, é quadrado; ora, é triângulo ao lado de uma reta. Pentágono assimétrico. Losango reto. Trapézio isósceles. Um time assim é imprevisível. Tanto que pode até perder.
 
Vim até Manaus para um imprevisível jogo de coadjuvantes. Vão me repreender e dizer que Itália e Inglaterra sempre chegam com alguma pinta de favoritos, de medalhões, de times de ponta. Mas, para mim, são coadjuvantes, pois não revolucionam o futebol, a não ser naquelas ocasiões em que eliminam justamente os que tendem a revolucioná-lo. São times do grupo da contra-reforma. Ao lado do Uruguai, outro pródigo nesse quesito.

Nessa Copa, ambos foram escanteados até Manaus, longe dos grandes centros urbanos. Enquanto os italianos estão hospedados num barco no meio do Rio Negro, os ingleses contam com Mick Jagger, o maior pé frio do último Mundial.

Quando o jogo começa, ambas as equipes tentam trair as minhas ideias. Os italianos abandonaram o catenaccio – aquela irritante formação defensiva feita especialmente para travar os adversários e, em consequência, o próprio jogo. Os ingleses deixaram de lado o tradicional chuveirinho na área. Agora, as jogadas britânicas são minuciosamente trabalhadas pelos meias Gerrard e Lampard em passes rasteiros para Rooney e Walcott. Logo no primeiro lançamento rasteiro de 20 metros, Walcott corre atrás do zagueiro de azul e desvia a bola do goleiro Buffon. Ela bate na trave e toca na rede do outro lado, o que tiraria o primeiro zero do placar se o bandeirinha tunisiano não marcasse impedimento.

Os ingleses reclamam, assim como um insatisfeito Mick Jagger. Você não pode ter sempre aquilo que você quer.

Os italianos respondem com pragmatismo. O zagueiro Chielini dá um chutão da defesa. A bola bate uma vez no chão e outra nos pés de Montolivo que manda um “chapéu” para Balotelli. Sozinho, na pequena área, ele testa de ombro. Bola na trave.

O “Ohhh” no estádio só vira gol aos 42 minutos do 1o tempo. Até lá, o que se vê é um jogo pegado em que as duas potências da bola querem a glória a qualquer custo.  Dois cartões amarelos para cada lado e pedidos de disciplina do árbitro tailandês, após uma sequência de carrinhos no círculo central.

Jogo truncado, alguém tem a luminosa ideia de arriscar de fora da área. Lampard manda um balaço rasteiro, Buffon se estica e defende. A bola fica solta, quicando na perpendicular da pequena área. Rooney se antecipa ao zagueiro Barzagli  para tocá-la de joelho rumo ao fundo do gol. 1 a 0.

Foi preciso o segundo tempo para os coadjuvantes de 82 alcançarem alguma condição de protagonistas.  E o fizeram através de Pirlo, o único jogador sem posição em campo. A ordem de Pirlo é ir onde a bola está, pedí-la aos companheiros e distribuir passes certeiros, armando jogadas para a Azzurra.

Pirlo serviu Giacherinni e ele bateu por cima do gol. Depois, lançou para El Shaarawi e ele mandou no ângulo da ambulância da Samu que fica atrás da meta inglesa.

Então, Pirlo desistiu de passar. Pegou a bola no meio-campo e partiu em diagonal rumo à área adversária. Driblou Milner com certa facilidade, pois esse não resistiu ao Xis-Tucumã que serviram na visita ao Rio Negro. Já Carrick foi humilhado e ficou de bunda no chão, quando Pirlo fingiu que lhe daria a bola para, em seguida, recolhê-la aos seus pés. Na sequência, um desesperado Gerrard se esticou todo no momento em que Pirlo ia chutar. O italiano recolheu a bola novamente, fazendo o adversário deslizar até a linha de fundo. E quando todos pensavam que Pirlo ia mesmo dar um chutão para o gol, ele mandou uma cavadinha. A bola foi alta, fazendo o goleiro inglês Joe Hart se esticar todo. Os dedos rentes ao travessão onde ela quica caprichosamente. O goleiro vai ao chão e vê, desesperado: Balotelli pronto para pegar o rebote. Novamente, Balotelli poderia testar a bola para o gol, mas não o faz. Poderia mandar de ombro, mas deixa essa ideia para lá. Poderia dar um chutão furando a rede, no entanto, evita. Mario estica o umbigo e leva o estádio ao delírio.  Mick rasga o seu ingresso e o jogo termina 1 a 1.
 

Manaus, 14 de junho de 2014.
Inglaterra 1x1 Itália
(Rooney de joelho aos 42 minutos do 1o tempo e Balotelli de umbigo aos 42 minutos do 2o tempo)

Texto do jornalista Juliano Basile. Jogador de botão. 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Perfume de Gardênias


Desde janeiro deste ano, este caos. A média de temperatura é de trinta graus. Trinta. E se é média, teve dia de quarenta graus na sombra. Ou mais. São Paulo derrete a céu aberto. E o pior, anos de incúria, alguma desorganização, muita falta de planejamento e um azar monstruoso fazem a cidade, a região metropolitana, o estado, viverem o racionamento de água constante. Como não chove, não há nos reservatórios mais nada além de pó. E terra. Um calor tenebroso, nauseabundo. As ruas cheiram perfumes vencidos. As pessoas se jogam em piscinas de clubes, de motel, de casas para tomarem banho. Nunca se vendeu tanto cloro, as lojas já acusam falta de mercadoria e o medo, o pânico, o transtorno é faltar ainda mais higiene nesses novos banhos públicos.


A prefeitura comprou água de estados vizinhos e vez por outra abastece, aos esguichos, ruas e praças da cidade. Até a praça Buenos Aires, no cheiroso e limpinho bairro de Higienópolis, recebeu uma dessas duchas públicas. O ex presidente FHC conclamou os pares do bairro para o banho, com medo de baixa adesão. Porque simplesmente não há mais água nas torneiras quatrocentonas. É o caos. O presidente vestiu sunga e junto com o prefeito, numa inédita união entre petistas e tucanos, tomou uma duchona alegre. E o calor, continua. Intenso, inclemente, sufocante. E o cheiro de mijo pela cidade se espalha e está natural, aceito, brisa.


É neste clima que a copa chegou. Sim, é verdade que tentaram adiar os jogos, jogar sal nas nuvens, encher o sistema Cantareira com água transposta do mar, do Rio Paraguai, do Pantanal. O medo, justificado, era a fedentina tomar conta da cidade de forma que a imagem internacional da cidade, do estado e do país fossem para o buraco. Iam, de fato. Mas havia solidariedade internacional: chegavam galões de água de todo mundo com destino a paulicéia.


As autoridades resolveram manter os jogos da copa. Afinal, é o Brasil ame ou deixe-o, a nova pátria mãe gentil. Os protestos de junho de 2013? Sinceramente, em fevereiro, até o carnaval, foram intensos. Mas a falta dágua deu um cecê monstro a qualquer tipo de manisfestação coletiva. O calor abrasivo impedia multidões. Vendia-se mais e mais daqueles guarda-chuvas chineses, para virarem sombrinhas. As pessoas ficavam em casa, quase sempre nuas. A cidade vivia um boom de gente pelada pelas ruas, o que atraía multidões de novos turistas. Mas era triste o contraste se pensarmos que não havia mais água na cidade. Era uma nudez fora de erotismos. Pensando assim, a cidade estava até mais humana, solidária, sem máscaras.


Era este o clima para Uruguay e Inglaterra no estádio do Corínthians. Os ingleses eram apupados em todas as esquinhas, desde a chegada ao hotel na marginal. O motivo? Eles trouxeram água inglesa e só comiam produtos lavados ou feitos com esta água. Imagina o quiprocó, o nacionalismo brasuca... era como se os ingleses voltassem a ser a metrópole usurpadora de outrora e não a tia senil dos Estados Unidos. Por isso os uruguaios deitavam e rolavam. Muitos brasileiros vendiam ingressos no câmbio paralelo, porque pouca gente tinha coragem para enfrentar mutidões nesse calor horrendo e sem água na cidadona. E foi uma invasão oriental. Camisas do Peñarol, do Nacional, do Danúbio, do Cerro, da Celeste. Os uruguaios, de banho tomado, estavam em casa. Itaquera era Montevidéu.


Aos dois minutos de jogo, Forlan. Aos oito, Suarez. E nas comemorações o uruguaio fez troça, bebendo uma garafinha de água brasileira como a dizer para os ingleses “imperialistas de mierda”, “não solidários”. Aos dezoito, a iminência de uma goleada cósmica: Cavani.


O fato é que os esnobes ingleses, em campo, iam sendo derrotados. A premier league não poderia conviver com aquele furdunço. De repente, chove. Uma chuva de anos. Pela cidade pipocam rojões, saramaleques, há danças da chuva. Há gentes peladas nas ruas, dos Jardins aos mais distantes bairros da periferia. As notícias davam conta de alagamentos, mas que as pessoas se banhavam, de sabonete e tudo, nas águas torrenciais. O jogo foi paralisado.


Voltaram a jogar no dia seguinte, só. Sim, a copa de todas as copas já tinha sua página de Noé. Na continuação do jogo os ingleses fizeram um gol, mas Lugano calou a rainha numa cabeçada monumental.

O calor? Desaparecera, por completo. Agora temiam neve.... 

Uruguai 4 x 1 Inglaterra, Itaquerão, 19/06/2014 (Forlan, Suarez, Cavani e Lugano; Gerrard)