domingo, 17 de junho de 2018

Zétti, De Sordi, Oscar, Mauro e Noronha. Rui, Bauer e Zizinho. Muller, Leônidas e Careca.



A camisa que tenho da seleção do Brasil é a branca, de 1950. Comprei numa dessas lojas que vendem camisa "retrô". Depois do Maracanazzo nunca mais o Brasil jogou de branco. Gosto de pensar que a minha camisa era a do Bauer, centrocampista que teve a alcunha de "Monstro do Maracanã", um dos poucos que se "salvou" da tragédia. Bauer faz parte de um dos poemas mais bonitos do ludopédio: Rui, Bauer e Noronha, linha média do São Paulo dos anos quarenta.

A camisa branca também podia ser também do Mestre Ziza, o Zizinho, o dez de cinquenta. O mestre foi o Zé Sérgio do Édson Arantes, li certa vez. Comparado a Picasso e a Da Vinci, Zizinho foi um jogador espetacular, capaz de proezas múltiplas. Vindo do Bangu, do estádio de Moça Bonita, que tem como nome oficial, de batismo, "Proletário Guilherme da Silveira" - só pelo nome do estádio o Bangu devia ser campeão todo ano -, Zizinho foi o maestro do time campeão paulista de 1957 e até hoje o Pacaembú nunca mais viu um time tão espetacular. Tinha o mestre mais de trinta e cinco em 58 e por isso, provavelmente, não foi cotado para compor o selecionado de 1958, o primeiro campeonato brasileiro da Jules Rimet, num time potencialmente impossível: Pelé, Garrincha e Didi. Fosse Zizinho um aninho mais novo e o menino Pelé talvez não fosse para a Suécia. 

Em 58, jogamos de azul. Ao menos a final foi de azul. Era a cor do manto de Nossa Senhora Aparecida, segundo um dos dirigentes. Nos teipes, nas gravações de rádio, nas letras de Nélson, no Museu do Futebol, o time de cinquenta e oito é um estupendo avanço civilizatório, uma alegoria da imensidão que o Brasil poderia ter sido, entre acordes de bossa nova e a folha seca de Didi. O amarelo, portanto, vem depois. 

O amarelo tem causado muita crise existencial,sabemos, de uns tempos para cá. Houve uma apropriação indevida da camisa, da cor e da história e esta tristeza entope as coronárias. Mas quem nunca se emocionou com a mão levantada de Reinaldo e seu gol contra a Suécia? Ou no soco no ar de Pelé? Ou o Doutor, naquele lindo gol contra a Itália? O cacete da história é que a composição de narrativas contraditórias por vezes nos fazem esquecer das essências das cousas. Desde Fried, depois com Leônidas da Silva, da rádio Nacional, das narrações de Ari Barroso, o futebol e a seleção são nossos marcos de identificação cultural e de história, como definidor de nossa gente, como Pixinguinha, Tom Jobim, Milton Santos, Machado de Assis, o samba, os memes. Não temos as Ilíadas, por falta de idade e porque mataram nossos índios ancestrais. Mas temos o chapéu de Pelé no atônito zagueiro galês. Ou o gol de pé descalço contra a Polônia, do nosso Diamante debaixo duma chuva de dilúvio.

No sábado, Marco e Leonel, meus filhos, me pediram para comprar camisas da seleção. E ainda por cima questionaram a minha falta de simpatia, para ser eufêmico, com o time brasileiro. Não adiantou muito qualquer argumento. A simples lembrança do time de Telê e dos abraços que dei em meu pai durante os jogos de 82, me derreteram. Eu tenho direito de negar aos dois este picolé, este chicabon, esta groselha com gelinho na praia em dia de sol? 

Compramos as camisas, no museu do futebol, no mítico Pacaembu. Uma preta de goleiro, uma azul de treino. Sem patrocínios, nem oba oba. E vestimos hoje, eu com a velha camisa branca.

Durante a partida, lá pelas tantas, televisor com som desligado e rádio no talo, daquelas alegrias sem preço, depois de um pombo sem asa e sem direção de algum jogador do time de Tite: "Pai, tenho certeza que se fosse o Shaylon tinha sido gol". 

E concordamos de forma inequívoca que Sidão não tomaria nunca aquele gol de empate.


17 de junho, 2018. Brasil e Suíça. Alemanha e México. Sérvia e Costa Rica.




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