terça-feira, 19 de junho de 2018

O jogador que falta a seleção



Eu gosto de copa. Mas tem muitas cousas que eu não entendo. Uma delas, pujante, é o diacho de interromperem as partidas da série A do Brasileiro, a Libertadores e a Sulamiranda. Abraçados aos meninos e com a menina pulando entre nós no sofá, me perguntam os dois: "quando é que o São Paulo vai voltar a jogar?". Já estou na fase de não saber responder a todas as perguntas deles...

Alguns vão dizer que não dá para competir com o certame mundial, que seria uma espécime de cereja oficial da federação que organiza a bagaça toda. Outros irão dizer que não teria como porque exauriria as pessoas com tantas informações sobre o futebol. Outros, os diretores da empresa que monopoliza as ideias do país - essencialmente esses, acham que iam ter que contratar jornalistas, equipes de esportes e equipes operacionais, para poder dar conta de eventos simultâneos como estes e ficaria muito oneroso. Eu, aqui do breu das tocas, acho tudo isso cascata, lorota, falta de comprometimento ou o excesso doutro comprometimento qualquer outro.

Começa errado, por direitos de transmissão comprados a preços exorbitantes, que uma única empresa detenha o poder de transmissão sobre os jogos de todos os campeonatos. É o capitalismo de merda que o país está acostumado desde sempre, onde a "competição" só interessa no quinhão alheio. Não sei porque os órgãos de proteção ao mercado simplesmente não proíbem este tipo de concentração de atividade econômica e cultural. Devia ser regra: transmite o Brasileirão, não transmite a Copa. Transmite o Paulistão, não transmite o Carioca. Tem contrato com o Corinthians, não tem com o Flamengo. Transmite Olimpíadas, não transmite Fórmula Um. Simples assim. Concentração é um bode, não é? Mas nosso liberalismo é  herdeiro de capitanias, neto de feudos, bisnetos de castas. Ou uma outra saída, linda de marrédessi que seria liberar o sinal para todo mundo. Eu, aqui de casa, transmito o que quiser.

E segue errado, porque a pausa no campeonato interrompe o coito. Lembro de uma Libertadores que o São Paulo enfrentou o Cruzeiro.Estávamos com os mineiros entalados porque tínhamos sido eliminados num ano anterior, sem chutar uma bola no gol em cento e oitenta minutos. Era eliminatória, o time estava naquele vai não vai. Mas antes da série, pudemos inscrever novos jogadores. Inscrevemos Fernandão. Fernandão fez história no Internacional de Porto Alegre, uma bonita história, e no Goiás. Pois bem, Fernandão fez duas partidas monumentais, Messi no chinelo, acabou com o Cruzeiro, tirou o nó e prometia mundos e fundos. Pausa para copa. Nunca mais. Fernandão teve passagem breve, nem titular foi durante o resto do período que ficou no tricolor. Perdeu o trem. Fernandão era um cara legal. 

Escrevo estas linhas como um desabafo, preocupado, com os rumos da prosa. Nenê, nosso sete, mais de trinta e cinco de RG, anda fazendo partidas de gala e garbo neste Brasileiro. O São Paulo fez mais pontos em doze rodadas do que em todo o primeiro turno do ano passado. Fico aqui matutando se esta pausa para a Copa não vai tirar esta adrenalina de nosso artista e voltará macambúzio destas férias forçadas...

Ao menos neste ano a Série B não parou. O Fortaleza segue fazendo uma campanha de Canal 100 e agorinha a noite estavam jogando Avaí e Guarani, na Ressacada. O estádio estava animado. No Guarani, Édson Silva desfilava na zaga. Édson foi,por um curto período, é verdade, o maior brasileiro vivo quando ocupou a bequeira do São Paulo: foram um ou dois jogos messiânicos. O cara chegou a cabecear o chão lutando por uma bola. Do lado do Avaí, também na zaga, Betão, ex Corinthians. Foi de Betão o gol que terminou com a fase mais bonita do Majestoso, onde bastava o Corinthians jogar com o São Paulo para acabar em crise: o 5x1 na estréia de Autuori, as quedas de treinadores, o show de Amoroso naquele jogo que teve que ser refeito pelo rolo da arbitragem. No ano do rebaixamento, logo após o São Paulo ganhar o caneco de forma antecipada, Betão fez o um a zero que tirou o Corinthians da fila. Depois daquele jogo o Majestoso anda dando mais dor de cabeça do que resultando em pão na chapa.  

Quando era menino, gostava também de jogar bola nos dias da Copa. O monotema era bálsamo. Desliguei o televisor, estava dois a zero para o Avaí. Os meninos dormiram, a menina dormiu, a casa em silêncio, vim escrever. Procurando os gols dos jogos de hoje na copa, quase li uma notícia da contusão do Neymar. Antes de abrir a aba, num canto, o nome de Aguirre pula na tela e me chama: "São Paulo faz treino com três zagueiros, Aguirre relembra os tempos vitoriosos de Muricy: Se é o melhor para o futebol, não sei. Mas é o melhor para o São Paulo.". Me emocionei, confesso.  


Em tempo: Avaí e Guarani empataram, um elétrico 3 a 3.

19 de junho, 2018. Japão e Colômbia. Senegal e Polônia. Egito e Rússia.










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