Estou
aqui. Quarto de hotel. Olhando a espátula do ventilador. E aquele
barulhinho.... trac...trac...traaaac....trac....traaaac... turk. E de
novo. Não sei como vou sair daqui, confesso. Tudo o que eu comi de
torresmo, tudo o que eu tomei de Salinas e afins, tudo o que eu
gritei, dancei, pulei. Sim, até sambei ao fim da noite quebrando
pratos. Pratos...
No
canto, nestas cômodas que tem bíblia, jaz um copo de sal de fruta.
Quando o resto do pó fica ali a te denunciar. A golpear com lâminas
de retrogosto. Só sei que quando percebi encontrei o tíquete do
bolso, o tíquete do jogo. Tinha ido a Beagá para Grécia e
Colômbia. Tinha ido, a bem da verdade, rememorar idas e vindas.
Tinha ido ao torresmo, santo. Confesso outra cousa: assim como Gil e
Dominguinhos, não sei amar sem torresmo. E quando esses exageros se
misturam, ainda mais numa copa do mundo, há que dar relevo ao óbvio:
algo sairá em ressaca. E cerveja gelada...
Quase
perco a hora. Também, que raios duplos fazem alguém imaginar um jogo as treze horas, treze horas... E estava eu numa conversa boa, de bar, que fui ficando, ficando, ficando. Mas,
repentinamente, sei lá como, Mineirão. Estava lá. Lotado.
O de sempre: Vaias
para todas as autoridades presentes. E uns gritos mais pesados aqui e
ali contra um outro que aparecia no telão. Mas o estádio foi
literalmente sacudido – e, sim, o bom Mineirão voltou a tremer
como nas tardes de Reinaldo ou de Nelinho – quando a cabeleira
santa de Valderrama surgiu nas telas. Valderrama descobriu que sua
popularidade por aqui é capaz de muito. Do melhor sítio da internet
sobre futebol, “Impedimento”, que tem ele estampado nas logos. E
de centenas de camisetas espalhadas pelo estádio. Alias, do lado de
fora, camelôs vendiam a camiseta por módicos reais. E os mineiros,
daquele jeito deles, souberam fazer o espetáculo: do lado de fora,
derrotada a Fifa, as lanchonetes de comida rápida, os refrigerantes, os patrocinadores, o diabo a
quatro. E dentro do Mineirão.... um trem doido.
A
torcida colombiana era maior e mais ruidosa. Poucas bandeiras da Grécia.
Evidências geográficas e econômicas. E a Colômbia tinha Falcão
Garcia, candidato a craque da copa. E ele foi logo dando as
credenciais: Bola na área e num sem pulo de cinemascope um petardo
varava a cidadela grega. Um a zero. Não deu tempo para nada, um golpe no fígado.
Mas a
retranca grega era digna. E o tik-tak dos colombianos... daquela
beleza que não leva a nada... enjôo. Sono. Toque daqui, toque dali.
Samaras, empate. Sempre ele, numa bola que sobrou de um chutão da
defesa. Falcão, outro golaço. Desta feita, senhoures e senhouras, o
cidadão conseguiu desvencilhar-se de Sócrates, Platão e todos os
filósofos juntos, com um toque de letra. No ângulo. Fim do primeiro
tempo e o gol espetacular deixou todos de queixo. Caídos.
Volta o
segundo tempo e aquele filme de sessão da tarde, repetido, mas em
castelhano ou portunhol brabo. E Jackson Martinez, do Porto, acabou fazendo um gol
espírita, marcando o três a um, quando a retranca grega dava sinais
de cansaço. A impressão é a de que os colombianos vão passar de
fase. Sem muitos sustos. Muito embora, no finalzinho da peleja, o
espanto: a Grécia faria o segundo gol, de penalti. E o jogador
grego, na comemoração, fingiu quebrar uns pratos na cabeça do
treinador português. Foi a senha para o estádio virar uma cantoria louca...
Andam a
dizer que o tal jogador pode até ser penalizado pela Fifa. Porque a
comemoração desencadeou uma algazarra de proporções colossais...
pratos...trac...trac...traaaac....trac....traaaac... turk....
Colômbia 3 x 2 Grécia (Falcão Garcia - 2, Jackson. Samaras e Karaugonis)
Já passou a ressaca?
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