quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Se foi só isso... tá bom...


Estou aqui. Quarto de hotel. Olhando a espátula do ventilador. E aquele barulhinho.... trac...trac...traaaac....trac....traaaac... turk. E de novo. Não sei como vou sair daqui, confesso. Tudo o que eu comi de torresmo, tudo o que eu tomei de Salinas e afins, tudo o que eu gritei, dancei, pulei. Sim, até sambei ao fim da noite quebrando pratos. Pratos...

No canto, nestas cômodas que tem bíblia, jaz um copo de sal de fruta. Quando o resto do pó fica ali a te denunciar. A golpear com lâminas de retrogosto. Só sei que quando percebi encontrei o tíquete do bolso, o tíquete do jogo. Tinha ido a Beagá para Grécia e Colômbia. Tinha ido, a bem da verdade, rememorar idas e vindas. Tinha ido ao torresmo, santo. Confesso outra cousa: assim como Gil e Dominguinhos, não sei amar sem torresmo. E quando esses exageros se misturam, ainda mais numa copa do mundo, há que dar relevo ao óbvio: algo sairá em ressaca. E cerveja gelada...

Quase perco a hora. Também, que raios duplos fazem alguém imaginar um jogo as treze horas, treze horas... E estava eu numa conversa boa, de bar, que fui ficando, ficando, ficando. Mas, repentinamente, sei lá como, Mineirão. Estava lá. Lotado. 

O de sempre: Vaias para todas as autoridades presentes. E uns gritos mais pesados aqui e ali contra um outro que aparecia no telão. Mas o estádio foi literalmente sacudido – e, sim, o bom Mineirão voltou a tremer como nas tardes de Reinaldo ou de Nelinho – quando a cabeleira santa de Valderrama surgiu nas telas. Valderrama descobriu que sua popularidade por aqui é capaz de muito. Do melhor sítio da internet sobre futebol, “Impedimento”, que tem ele estampado nas logos. E de centenas de camisetas espalhadas pelo estádio. Alias, do lado de fora, camelôs vendiam a camiseta por módicos reais. E os mineiros, daquele jeito deles, souberam fazer o espetáculo: do lado de fora, derrotada a Fifa, as lanchonetes de comida rápida, os refrigerantes, os patrocinadores, o diabo a quatro. E dentro do Mineirão.... um trem doido.

A torcida colombiana era maior e mais ruidosa. Poucas bandeiras da Grécia. Evidências geográficas e econômicas. E a Colômbia tinha Falcão Garcia, candidato a craque da copa. E ele foi logo dando as credenciais: Bola na área e num sem pulo de cinemascope um petardo varava a cidadela grega. Um a zero. Não deu tempo para nada, um golpe no fígado.

Mas a retranca grega era digna. E o tik-tak dos colombianos... daquela beleza que não leva a nada... enjôo. Sono. Toque daqui, toque dali. Samaras, empate. Sempre ele, numa bola que sobrou de um chutão da defesa. Falcão, outro golaço. Desta feita, senhoures e senhouras, o cidadão conseguiu desvencilhar-se de Sócrates, Platão e todos os filósofos juntos, com um toque de letra. No ângulo. Fim do primeiro tempo e o gol espetacular deixou todos de queixo. Caídos.

Volta o segundo tempo e aquele filme de sessão da tarde, repetido, mas em castelhano ou portunhol brabo. E Jackson Martinez, do Porto, acabou fazendo um gol espírita, marcando o três a um, quando a retranca grega dava sinais de cansaço. A impressão é a de que os colombianos vão passar de fase. Sem muitos sustos. Muito embora, no finalzinho da peleja, o espanto: a Grécia faria o segundo gol, de penalti. E o jogador grego, na comemoração, fingiu quebrar uns pratos na cabeça do treinador português. Foi a senha para o estádio virar uma cantoria louca...

Andam a dizer que o tal jogador pode até ser penalizado pela Fifa. Porque a comemoração desencadeou uma algazarra de proporções colossais... pratos...trac...trac...traaaac....trac....traaaac... turk....

Colômbia 3 x 2 Grécia (Falcão Garcia - 2, Jackson. Samaras e Karaugonis)
Mineirão. Beagá. 14.06.2014 

E quem não conhece, conheça: Impedimento - http://impedimento.org  
 

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