Na
verdade, quando a gente vai a um jogo de copa do mundo a gente não
espera uma vitória épica, um golo magistral, uma epopéia, uma
virada, uma galhofa. Evidente, quando a gente vai num jogo do time
que a gente torce, a gente... torce. Mas não falo desta expectativa.
O rumo da prosa é outro.
Numa
copa é a arquibancada que buscamos. Mais que o jogo. Quem se lembra
da série interminável de partidas bizonhas, horrorosas,
mequetrefes, jejum de faquir que se amontoam pelas copas de outrora.
Só na África do Sul podemos lembrar de uns dois ou três jogos que
realmente valeram a pena, futebolisticamente no campo. Até a Espanha
teve uns jogos saco vazio, naquele toque de lado até o dia amanhecer
que deixam até Buda de fastio. E se formos mais longe, nas copas da
Alemanha, na de Japão e Coréia, na da França... minha nossa
senhora da cafeína... várias pelejas são de dar sono em bule de
café.
Mas lá
nas arquibancadas, não. Existe, naquela mágica entre o que sonhamos
e o que é, uma imensa nuvem de possibilidades. Os ingressos tem
preços absurdos, pornográficos. Os estádios tem estruturas para
deixar tímidos os pobres, os desvalidos, os de sempre. Mas mesmo
assim são nas cores de uma arquibancada que iremos encontrar um
pouco da razão de ser real de um certame mundial. É verdade que
alguns enxergam o “exótico” e não a diversidade, mas há bestas
em qualquer lugar.
Irã e
Nigéria, no campo, há de ser sempre uma incógnita. De um lado a
sempre esperada reviravolta africana, sempre repletos de entusiasmos
e esperanças mas que redundam em decepções e derrotas
inexplicáveis. Mas a Nigéria tem um time forte, habilidoso e capaz
de sonhos, como de outras vezes. Será desta vez? Não sabemos. E do
outro lado, o Irã, este país que é o inimigo número um da classe
média abobada ensinada – ou domesticada, sabe-se lá, pelo mais
fino discurso da tal democracia ocidental. Mas um país que pouco
sabemos – e pior, que muitas vezes nem queremos saber.
Foi
bonito ver, na torcida do Irã, uma faixa com o rosto do ativista
negro americano Mumia Abu Jamal, preso desde sempre, lembrando que a
tal democracia ocidental também é uma forma de opressão, mais
dissimulada, mais chique, mais perversa. A democracia ocidental é
como o hamburguer da patrocinadora, “amo muito tudo isso”.
E nesse
jogo incógnita, de que pouco sabemos de antemão, que temos a
Nigéria como favorita, qualquer resultado é possível. Na verdade,
a vitória dos africanos foi construída com um bom futebol na fria
Curitiba. Sinal de que podem passar de fase e ousar. Tomara, o mundo
precisa da África. A Copa, também.
Mas foi
o gol do Irã, ao final do jogo, que nos deu a certeza de que a copa
pode ser um grande espetáculo de celebração. Nas arquibancadas,
dançavam os poucos africanos e os poucos iranianos, ao som de uma
batucada improvisada, numa letra em que podíamos ouvir um pouco de
paz.
Nigéria
3 x 1 Irã
Curitiba,
Estádio do Atlético, 16/06/2014. (não anotei o nome de quem fez os gols,
estava dançando também)
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