Dizem
que uma copa do mundo só existe mesmo quando a gente é guri. Bom...
quem disse isso fui eu mesmo...
O fato
é que a Arena Pernambuco, nome patético que andam a dar a estádios
de futebol, é bonita. E só. Parece um teatro de shopping, uma
anedota de cinto, uma coxinha de frango só de massa. Mas que é
bonita, é. Nada, obviamente, da beleza da Ilha do Retiro, dos
Aflitos ou do Arruda. Mas a gente se acostumou a destruir picadeiros
para construir varandas gourmet. Bem... o mundo é isso mesmo.
Mas
esqueceram, mesmo, mesmo, mesmo, de avisar para Honda e Drogba que
este mundo de crianças não existe nos mercados globais. Esqueceram
de esquecer. Porque ambos meninos destroçaram castelos, avançaram
continentes e foram até Marte. Tudo num jogo só. O Santa Cruz de
Fumanchu, Pio e do Cabelo de Fogo, Nunes, totalmente vingado. O Sport
campeão brasileiro no campo e na raça de 1987. E o Náutico nunca
mais terá que rever as tragédias dos Aflitos, pois foi um gol
clássico de Bizu. Isto tudo num mesmo jogo. Sem contar o Central de
Caruaru, totalmente alforriado dos regulamentos capengas. Até o
Íbis, senhoures e senhouras, apareceu em campo.
Drogba
é daqueles pedaços de mundo que não cabem nele mesmo. Alguns dizem
arrogância, mas depois do primeiro gol de ontem nada mais há que se
escrever. Nada, repito. Foi Milla, sem tirar nem por. Foi a Zâmbia.
Foi Gana. Foi Nigéria. Foi tudo numa jogada só. Os japoneses só
aplaudiram. E nisso, neste ato, os japoneses deram um tapa na cara do
mundo, com luvas de pelica. Foram os aplausos do goleiro
inapelavelmente derrotado pela pintura de Drogba e do zagueiro, que
nunca mais terá a mesma coluna depois do drible africano, que
empataram a peleja. Sim, um gesto nobre desses despenca qualquer
sentimento de superioridade, desperta a simpatia mortal, desfaz os
traços de guerra.
E só
isso explica a partida deste Honda. O japonês com nome de motoca foi
muito mais que o próprio motorzinho asiático. Foi dele a obra que
consagrou de fato o empate, num giro mortal que deixou a todos um
gosto de pé na areia da Boa Viagem para uma pelada no fim de tarde.
Apesar
das arenas, frígidas, impotentes. Os meninos da Costa do Marfim,
naquele que é o uniforme mais bonito da copa, aplaudiram os meninos
japoneses no fim da partida. E uma faixa enorme era desfraldada na
arquibancada: “FIFA GO HOME: HELL”.
Até
que a Arena Pernambuco ficou bonita ao fim da partida. Passada meia noite, lua linda no céu. E cantavam
frevos e sombrinhas coloridas surgiram por todos os cantos: “E se
aqui estamos cantando esta canção... viemos defender a nossa
tradição.... e dizer bem alto que a injustiça dói... nós somos
madeira de lei que cupim não rói!”.
Costa do Marfim 1 x 1 Japão, na Arena Pernambuco - 14.06.2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário