sábado, 18 de janeiro de 2014

"Queiram ou não queiram os juízes"


Dizem que uma copa do mundo só existe mesmo quando a gente é guri. Bom... quem disse isso fui eu mesmo...

O fato é que a Arena Pernambuco, nome patético que andam a dar a estádios de futebol, é bonita. E só. Parece um teatro de shopping, uma anedota de cinto, uma coxinha de frango só de massa. Mas que é bonita, é. Nada, obviamente, da beleza da Ilha do Retiro, dos Aflitos ou do Arruda. Mas a gente se acostumou a destruir picadeiros para construir varandas gourmet. Bem... o mundo é isso mesmo.

Mas esqueceram, mesmo, mesmo, mesmo, de avisar para Honda e Drogba que este mundo de crianças não existe nos mercados globais. Esqueceram de esquecer. Porque ambos meninos destroçaram castelos, avançaram continentes e foram até Marte. Tudo num jogo só. O Santa Cruz de Fumanchu, Pio e do Cabelo de Fogo, Nunes, totalmente vingado. O Sport campeão brasileiro no campo e na raça de 1987. E o Náutico nunca mais terá que rever as tragédias dos Aflitos, pois foi um gol clássico de Bizu. Isto tudo num mesmo jogo. Sem contar o Central de Caruaru, totalmente alforriado dos regulamentos capengas. Até o Íbis, senhoures e senhouras, apareceu em campo.

Drogba é daqueles pedaços de mundo que não cabem nele mesmo. Alguns dizem arrogância, mas depois do primeiro gol de ontem nada mais há que se escrever. Nada, repito. Foi Milla, sem tirar nem por. Foi a Zâmbia. Foi Gana. Foi Nigéria. Foi tudo numa jogada só. Os japoneses só aplaudiram. E nisso, neste ato, os japoneses deram um tapa na cara do mundo, com luvas de pelica. Foram os aplausos do goleiro inapelavelmente derrotado pela pintura de Drogba e do zagueiro, que nunca mais terá a mesma coluna depois do drible africano, que empataram a peleja. Sim, um gesto nobre desses despenca qualquer sentimento de superioridade, desperta a simpatia mortal, desfaz os traços de guerra.

E só isso explica a partida deste Honda. O japonês com nome de motoca foi muito mais que o próprio motorzinho asiático. Foi dele a obra que consagrou de fato o empate, num giro mortal que deixou a todos um gosto de pé na areia da Boa Viagem para uma pelada no fim de tarde.

Apesar das arenas, frígidas, impotentes. Os meninos da Costa do Marfim, naquele que é o uniforme mais bonito da copa, aplaudiram os meninos japoneses no fim da partida. E uma faixa enorme era desfraldada na arquibancada: “FIFA GO HOME: HELL”.

Até que a Arena Pernambuco ficou bonita ao fim da partida. Passada meia noite, lua linda no céu. E cantavam frevos e sombrinhas coloridas surgiram por todos os cantos: “E se aqui estamos cantando esta canção... viemos defender a nossa tradição.... e dizer bem alto que a injustiça dói... nós somos madeira de lei que cupim não rói!”.

Costa do Marfim 1 x 1 Japão, na Arena Pernambuco - 14.06.2014

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