quinta-feira, 5 de julho de 2018

"Coluna do Meio"


Os especialistas estão todos absolutamente convencidos de que o campeão da copa da Rússia sairá do lado dos confrontos que tem França, Uruguai, Brasil e Bélgica. Os outros quatro, Suécia, Inglaterra, Rússia e Croácia são tratados como zebras, zebraças, zebrões. Há até algum desprezo, de canto de boca, quando falam de suecos e russos. Não deviam, acho eu, sonso que sou.

Há o imponderável no futebol e, só por esta frase quase lugar comum, devemos sempre e sempre amar e respeitar as zebras. Há poucas possibilidades em outros esportes, na vida, em tudo, de uma equipa mais fraca, menos cotada, ganhar uma peleja. A metáfora do Davi contra Golias funcionou bem mais no futebol do que em outras artes do inconsciente, incluindo as religiões. Todo mundo sabe, reconhece, recita ao menos uma zebraça. Incluindo canecos.

Mas se não fosse por admiração e carinho pelos resultados arruinadores de bolão, Suécia e Croácia deveriam ser tratadas com um pouquinho menos de desconfiança por razões históricas. Os suecos já foram vice campeões mundiais uma vez, em 1958, jogando em casa. Mas a primeira vez que os suecos disputaram uma copa, em 38, foram para as semifinais. E perderam para o Brasil de Leônidas da Silva a decisão do terceiro e quarto lugares. Em 50, no Brasil, ficaram na terceira colocação, atrás de Brasil e Uruguai. Em 70, foi desclassificada por ter pior saldo que o Uruguai, no grupo que ainda tinha a Itália. Itália que seria a vice campeã e Uruguai que disputaria a semifinal com o Brasil. E em 94, os suecos foram novamente para as semifinais, perderam outra vez para o Brasil, um gol de Romário quando todos já se preparavam para a prorrogação. Assim, os suecos não são novidade em fases final de copa. Há um filme maravilhoso, "Minha vida de cachorro", que, além de muitas cousas, retrata a paixão sueca pelo futebol. A Suécia tem um histórico em copas muito mais importante que a Inglaterra, que, sim, já foi uma vez campeã do mundo, ganha em casa e no apito, e só disputou mais uma semifinal. Duvido todos os meus botões que a Suécia perca da Inglaterra nestas quartas de final...

E a Croácia fez parte da Iugoslávia. Os iugoslavos estiveram duas vezes nas fases de semifinal nas copas, em 30 e 62, e a Croácia já chegou numa semifinal, em 98, sendo eliminada pela França que seria a campeã, de triste recordação para os brasileiros. E, não é insensato supor que as divisões que dilaceram a Iugoslávia, numa das guerras mais insensatas e violentas, eram fatores que desestabilizavam os iugoslavos, impedindo bons times de irem adiante em competições pelo mundo.

Gostamos de traçar medidas, índices, probabilidades e gastarmos nosso latim com observações sobre os mais fortes, os mais aptos, os mais preparados. Desconfio que esquecemos de fatores outros, destas pequenas esperanças que nascem de vidas imateriais pretéritas, de pequenas conquistas, de périplos anteriores. Muitos acreditam firmemente que um jogo de futebol se resolve naquele retângulo, com os vinte e dois em campo, mais os que entrarem substituindo titulares. Que uma partida de futebol começa e termina com o trinar de um apito... 


A ilusão da objetividade é uma bola quadrada. E caceta, a Colômbia tinha que ter matado o jogo no primeiro tempo da prorrogação contra os ingleses. James Rodrigues seria o melhor em campo no jogo contra os suecos, não tenho a menor sombra de dúvida. 


03 de julho, 2018. Inglaterra e Colômbia. Suécia e Suíça.



     


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